As autoridades angolanas negaram autorização a uma marcha pacífica contra fome e desemprego por ser promovida por pessoas afetas ao movimento de jovens que contesta a governação do MPLA.
O protesto convocado pela organização União dos Povos de Angola (U.P.A) para este sábado (01.05) em Luanda não aconteceu, porque a polícia deixou claro que tinha orientações para violentar os “revús” e outros cidadãos que ousassem se juntar à marcha.
Ao contrário da marcha da U.P.A, a outra manifestação ocorrida na capital angolana este sábado, intitulada “Luanda lixada”, contra o foco de lixo em Luanda, não sofreu sobressaltos.
Em declarações à DW África, o presidente do Movimento dos Povos de Angola, o ativista Pedrowski Teka, disse que a sua manifestação não foi autorizada por ser dos “revús”.
“O oficial da polícia que se identificou como inspetor Russo, do comando provincial da polícia, disse-nos que os agentes que estão aqui receberam ordens expressas do governo provincial e da polícia para não permitir a realização da manifestação”, conta.
“Porém, há uma outra manifestação que está acontecer a partir do Largo das Heroínas até ao Largo da Sagrada Família. Quanto a esta manifestação, o mesmo disse que foi autorizada. A nossa só não foi autorizada, segundo ele, porque somos ‘revús’ e as autoridades têm medo dos ‘revús'”, disse Pedrowski Teca, que recebeu garantias de que a polícia iria carregar sobre os manifestantes.
“Dissabores”
Na zona da padaria do bairro Rocha Pinto, local da concentração da marcha contra a fome e o desemprego, havia vários elementos da polícia de ordem pública, agentes do serviço de investigação criminal e alguns à paisana. Estes estavam a desfazer qualquer ajuntamento de pessoas que se formasse no local.
Muitos dos participantes tiveram que se esconder da polícia para não serem detidos. Pedrowski Teka afirmou que decidiu cancelar a marcha para evitar mais “dissabores” contra os jovens.
“Há mais polícias aqui. Neste momento, é impossível concentrar as pessoas, porque não estão a permitir a concentração de pessoas. Então, para evitarmos dissabores, decidimos não avançar, porque a polícia impediu a manifestação com ameaça de repressão. A informação que recebemos do inspetor Russo é que eles estão aqui para reprimir”, sublinhou.
Outra situação do gênero aconteceu na semana passada. A manifestação contra o desempenho da imprensa estatal foi impedida também com ameaças claras de repressão. As autoridades só iriam autorizar o ato caso os organizadores aceitassem excluir os membros do Movimento Sociedade Civil Contestatária, outra organização de jovens revolucionários que tem realizado manifestações contra os 45 anos de governação do MPLA.
A DW África tentou ouvir um porta-voz da polícia, mas não obteve resposta.
Protesto contra fome
Entretanto, a marcha convocada pela U.P.A decorreu noutras províncias, como Namibe e Moxico.
A manifestação faz parte da campanha contra a fome e desemprego que está a ser promovida pelo Movimento dos Povos de Angola. A mesma conta vários programas, como debates e visita ao aterro sanitário, local onde várias famílias têm decorrido para a procura de alimentos.
Segundo Pedrowski Teka, a U.P.A vai apresentar ao Governo propostas de combate à fome e ao desemprego em Angola. O ativista afirma que a questão da fome no país é uma situação de emergência.
“A U.P.A não vai parar por aqui. Se a direção da U.P.A decidir que vamos sair às ruas, faremos isso”, garantiu.