Politólogo angolano acredita que uma frente unida aumentaria as hipóteses da oposição vencer as eleições de 2022. Mas entende que os partidos têm de se esforçar mais para transformar o descontentamento do povo em votos.
Adalberto Costa Júnior, líder da União para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido da oposição), terá sido o escolhido para liderar a “Frente Patriótica Unida” na corrida às eleições gerais de 2022.
A notícia é avançada pelo Novo Jornal, que dá conta de uma “reunião secreta” do projeto que junta a UNITA, o Bloco Democrático e o PRA-JA, numa tentativa de derrotar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), no próximo ano. Segundo o jornal, o plano é ter o líder do projeto político PRA-JA, Abel Chivukuvuku, como “número dois”.
A DW África tentou em vão falar com os líderes políticos em questão. O porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, confirmou apenas que estão a decorrer conversações sobre a Frente Patriótica. O “número um” da lista, será divulgado mais tarde, afirmou Dachala.
Conversámos com o professor e politólogo angolano Olívio N’kilumbu sobre o assunto.
DW África: O que representa esta decisão da oposição, de criar uma frente unida, no contexto político de Angola?
Olívio N’kilumbu (ON): A oposição angolana entendeu criar uma frente única para contrapor o MPLA, partido no poder, que conta com três forças políticas: UNITA, o projeto PRA-JA e o Bloco Democrático. Noutros anos já se falou dessa frente unida, mas nunca se pôs em prática, sobretudo em época eleitoral.
DW África: Acha que vai ser um projeto vencedor? Vai aumentar as hipóteses da oposição vencer as eleições de 2022?
ON: Acho que sim. A oposição tem de fazer um esforço para transformar este descontentamento generalizado em votos. É uma tarefa por fazer. É preciso que a oposição tenha capacidade e competência para entender o fenómeno e transformar essa tendência, porque nota-se que uma frente unida tem maior impacto, sobretudo para contrapor as manobras de manutenção do poder político do MPLA.
DW África: E os outros partidos não terão entrado no barco porquê?
ON: Não consigo precisar porquê, mas a informação que temos é de que alguns líderes não foram convocados – ou foram convocados mas não se mostraram disponíveis.
Não é fácil criar uma frente unida em Angola, um país onde o multipartidarismo só aconteceu em 1992 e ainda há uma visível presença do monopartidarismo. Tentar convencer uma elite política a fazer parte de uma frente única não é uma tarefa fácil. Aqueles que estiveram disponíveis são estes.
DW África: A UNITA, PRA-JA e Bloco Democrático são liderados por autênticos “animais políticos” – Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku e Justino Pinto de Andrade. Será que se vão entender?
ON: Esse é o grande defafio. E recordo as palavras de Abel Chivukuvuku: ‘há que afastar os orgulhos”.
Se eles tiverem um objetivo, que é desalojar o MPLA do poder, tal como aconteceu no Senegal e na República Democrática do Congo, que tiveram lideranças longevas – não ao nível do MPLA, mas com mais de 20 anos – acho que é possível. E será necessário encontrar entre os líderes das três formações alguém para liderar esse projeto. O “Novo Jornal” dá conta de que pode ser Adalberto Costa Júnior. Mas tanto Adalberto Costa Júnior, como Abel Chivukuvuku são, como disse, verdadeiros “animais políticos” e apresentam-se como as maiores ‘unidades’ dos últimos 30 anos ou pelo menos da Angola democrática.
DW África: E, perante esta jogada da oposição, como deverão reagir o Presidente João Lourenço e o MPLA?
ON: A reação é meio satírica. Lembro-me de João Lourenço dizer: ‘vão buscar os vizinhos, amigos e primos’… Ou seja, podem juntar quantos forem necessários, mas não será possível desalojar o MPLA. É um sacudir de água do capote por parte de João Lourenço. Mas essa frente única representa um perigo para o poder político do MPLA.