Ana Dias Lourenço, deveria processar o canal brasileiro, ligado Igreja Universal do Reino de Deus, por ter promovido um “ataque absurdo” contra a sua pessoa, defende o analista angolano Eugénio Costa Almeida.
Em entrevista à DW África, o investigador especialista em Relações Internacionais do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL), Eugénio Costa Almeida, comenta a acusação feita pela TV brasileira, que relaciona Ana Dias Lourenço a um alegado caso de corrupção ligado à operação “Lava Jato”, da Polícia Federal brasileira.
A mulher de João Lourenço, que foi também ministra do Planeamento na altura do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, segundo a TV Record, terá beneficiado, supostamente, de negócios ilegais envolvendo o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido do poder, a construtora brasileira Odebrecht e a Orion, empresa de publicidade e comunicação de que era acionista. Leia a entrevista com Eugénio Costa Almeida:
DW África: Esse ataque mediático da Record poderá fazer azedar as relações diplomáticas Angola-Brasil?
Eugénio Costa Almeida (ECA): Não me parece que possa provocar o azedamento das relações entre os dois países. Pode, sim, esfriar um pouco mais uma relação que já vem desde o momento em que Angola “nacionalizou” a IURD, face aos problemas que havia entre a IURD mãe e a IURD Angola. Este ataque absurdo, que efetivamente levou a própria equipa de advogados da IURD, da TV Record em Angola, a abandonar a tutela, mais não é do que uma consequência, dessa tal “angolanização” da IURD.
DW África: Ou seja, é um artifício para promover essa guerra em Angola e para o núcleo brasileiro da IURD se manter de pé…
ECA: Indiscutivelmente, nós sabemos que há uma tentativa da cúpula brasileira da IURD, liderada pelo bispo Edir Macedo, no sentido do Ministério dos Assuntos Exteriores do Brasil e do próprio Presidente Bolsonaro criarem um conflito diplomático com Angola.
DW África: No seu entender o Brasil tem interesse nesse conflito diplomático com Angola?
ECA: Da parte do Ministério brasiliero dos Assuntos Exteriores o assunto foi debatido, no sentido de não deixar que este assunto particular, e estou a referir-me à “angolanização da IURD”, enveredar por um caminho que poderia ser pouco satisfatório, até porque a IURD já está a “levar” não só em Angola, mas também São Tomé e Príncipe, por exemplo. São Tomé e Príncipe até foi um dos primeiros países a questionar a atitude da IURD em seu território. Mas uma atitude do país contra Angola, tendo por base uma questão que é meramente ecuménica, poderia acarretar para o Brasil alguns problemas para as relações com o continente africano. Nós sabemos que as relações do Brasil com África, especialmente na era de Lula da Silva, se intensificaram. Com o Bolsonaro a politica virou-se mais para os Estados Unidos. O paradoxal disto tudo, com Ana Dias Lourenço, é irem buscar questões que juridicamente estão ultrapassadas há muito, que é o caso do Lava Jato e o caso Odebrecht…
DW África: E no contexto político em Angola, sabemos que o país já entrou na fase pré-eleitoral. Acha que esse ataque da TV Record contra a primeira-dama não seria também para afetar a imagem do Presidente João Lourenço?
ECA: Pode ter sido uma vontade, porque a TV Record também tem um problema que não podemos escamotear: quer a TV Record, quer o grupo ZAP foram sancionados pelo Ministério das Telecomunicações de Angola, quanto às sua emissões, porque os respetivos detentores de cargos dirigentes não eram angolanos, de acordo com a lei nacional. E a IURD, como detentora do canal, não acolheu bem a situação. E portanto isso também pode ter sido uma forma de protesto. Portanto tudo isso pode servir para a campanha contra o Presidente e naturalmente contra o seu partido.
DW África: A oposição angolana poderia aproveitar-se desse ataque da TV Record para ganhar terreno?
ECA: Isso seria um erro politico da oposição angolana, até porque os principais opositores ao regime angolano sempre aproveitaram todas as oportunidades para criticar a TV Record, e alguns até criticaram o governo por não ter tomado uma atitude mais rápida contra a TV Record e contra a IURD.
DW ÁFrica: Angola poderia responder a esse ataque de que forma?
ECA: Na minha opinião a solução imediata mais correta – porque o ataque foi contra uma pessoa, neste caso a primeira-dama – seria colocar a TV Record em tribunal.