Pedro Lussati, o major da Casa de Segurança que está arrolado como figura mediática da operação “Caranguejo”, indiciou o nome de um antigo financeiro da Unidade Guarda Presidencial (UGP), coronel José Ricardo Tchiwana como figura que chegou a ter em sua posse dois contentores contendo caixas de dólares norte americano escondidos na sua fazenda. Tchiwana já foi notificado na quinta-feira (3) pela PGR.
IRMÃO DO MAJOR “BRAÇO DIREITO” DE PEDRO LUSSATI
As revelações do major foram possíveis depois de ter sido ouvido por um alto funcionário do SINSE que nos interrogatórios convenceu-lhe a falar “toda verdade”, em troca de segurança. Numa fase inicial, Pedro Lussati receava falar por recear que viesse a ser retaliado por parte dos seus antigos cúmplices da Casa de Segurança.
Ao falar toda a verdade, Pedro Lussati – que se encontra sob custodia do SINSE – terá explicado que no total a UGP tem cerca de 12 batalhões fantasmas e que por sua vez parte dos dinheiros que o seu grupo detinha era levantado a pretexto de ser o ordenado dos 400 soldados inexistentes que “integram” cada batalhão.
Explicou ainda que desde o tempo do General Manuel Vieira Dias “Kopelipa”, era a UGP que recebia a orientação de ir ao terminal do Porto de Luanda, carregar contentores de divisas provenientes do exterior por via marítima. Se num ano levantassem 30 contentores, pelo menos dois ou um ficava com a sua rede, e de seguida “guardados” numa fazenda.
Desta forma, segundo explicou Lussati, o antigo financeiro da UGP, coronel José Ricardo Tchiwana teria ficado com dois contentores guardados em sua fazenda e protegidos por uma empresa de segurança “Grupo Delta Angola”, detida por um empresário Francisco Yoba Capita. Aos seguranças, o coronel financeiro da UGP alegava tratar-se material gastável.
A dada altura os seguranças aperceberam-se que no contentor haviam caixas de dólares guardadas e o coronel terá sido chantageado pelo empresário Francisco Yoba Capita que aos 8 de Janeiro de 2019 tomou a decisão de escrever ao Presidente João Lourenço, sobre estes dinheiros fora do circuito financeiro.
“É nesta altura que a minha empresa de escolta de valores (Divisão Seguranças) é contactada pelo senhor coronel José Suana para transporte de caixas de dinheiro que haviam sido armazenados em contentores de 20 e 40pés, um total de seis contentores, sendo dois de 40 pés com blocos de notas de cinco mil kwanzas, um de 40 pés, com notas de 500 kzs, um de 20 pés com notas de mil kwanzas e dois de 20 pés com notas de dois mil kwanzas”, lê-se na carta enviada ao PR.
Segundo o queixoso, “O coronel José Suana, não podia mexer naqueles valores para não levantar suspeitas, uma vez que ele era um dos responsáveis da UGP (grupo de avanço) que movimentava grandes somas de dinheiro em nome da casa da segurança da Presidência da República”, disse explicando que “o aludido coronel aproveitava das suas para desviar parte dos valores e investir em fazendas nas províncias de Benguela e Cuanza Sul”.
Na carta ao Presidente, o queixoso Francisco Yoba Capita implicou também um antigo Procurador-Geral Adjunto da República junto do SIC Luanda, Beato Manuel Paulo, como figura que oferecia proteção judicial ao antigo financeiro da UGP.
Na altura em que ocorreu a descoberta dos contentores de dinheiro, o assunto chegou aos ouvidos do Chefe da Casa de Segurança da Presidência, general Pedro Sebastião. Entretanto, o coronel José Ricardo Tchiwana devolveu os dois contentores e por sua vez foi expulso da Casa de Segurança, sem no entanto ter havido processo criminal. O destinado dado ao contentor devolvido é, até aos dias de hoje, objeto de varias versões. Há quem diga que os valores foram devolvidos para os cofres da Casa de Segurança, concorrendo com uma outra versão que alega o inverso.
Segundo apurou o Club-K, terá sido esta versão de Pedro Lussati que levou com que o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço tomasse a decisão de afastar Pedro Sebastião do comando da Casa de Segurança por omissão de informação e por ter resolvido o assunto da devolução dos dois contentores de dinheiro sem que houvesse responsabilização criminal dos seus subordinados.
José Ricardo Tchiwana, o ex financeiro da UGP é irmão mais velho de um outro jovem major Edmundo Joaquim Tchitangofina, descrito como responsável pela inserção de Pedro Lussati neste esquema de desvio de caixas de dinheiro. O major Tchitangofina que acarreta a fama de ter mais caixas de dinheiro que Lussati, terá fugido recentemente para o Dubai.
Segundo apurou o Club-K, durante o período da campanha eleitoral em que se assinalava a saída de José Eduardo dos Santos do poder, um então financeiro da Casa de Segurança, tenente-general Luís Simão Ernesto foi denunciado como tendo, carregado durante dois meses, caixas de dinheiros para local fora do circuito da presidência da República.
Em Agosto de 2019, uma noticia do portal “O Decreto” dava conta da detenção de Luís Simão Ernesto por parte de elemento da procuradoria militar mas o mesmo acabaria solto porque estava a ser levado sem mandado de detenção.