Governo angolano é acusado de negar acreditação à nova missão diplomática da Guiné-Bissau em Luanda. Mal-estar estaria ligado a críticas de Sissoco a João Lourenço sobre alegada “interferência” em assuntos internos.
O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, revelou na última semana, num debate sobre reformas políticas em Angola, o que classificou como “ações graves” do Governo angolano no âmbito de uma alegada retaliação à Guiné-Bissau.
Angola não tem um embaixador nomeado para a Guiné-Bissau desde 2020, quando Daniel António Rosa deixou Bissau para assumir a chefia da diplomacia angolana em Singapura. Luanda não nomeou cônsul em Bissau, segundo a lista de titulares de Angola em diferentes representações diplomáticas, a qual a DW África teve acesso.
Segundo o líder da UNITA, Luanda também não acreditou a embaixadora sugerida pelo Governo de Umaro Sissoco Embaló para Angola. “Tomei conhecimento na Guiné, que a Guiné-Bissau retirou o embaixador de Angola e ficou sem embaixador. E pior ainda, que as cartas credenciais para a nomeação da [nova] embaixadora em Angola não foram aceites. Isso é grave”, revelou o líder do maior partido da oposição angolana.
“Relações são boas”
As relações entre os dois países terá “azedado” depois dos resultados polémicos das eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Em março do ano passado, Umaro Sissoco Embaló, lançou “farpas” ao Presidente João Lourenço, acusando-o de interferir nos assuntos internos do seu país e também de perseguir a família do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
O Ministério das Relações Exteriores de Angola (MIREX) não respondeu oficialmente às solicitações de entrevista da DW África sobre o caso. No entanto, uma fonte do MIREX garantiu que o alegado mal-estar diplomático entre Luanda e Bissau não existe e que as relações entre os dois países são boas.
Segundo a fonte diplomática, Bissau não teria remetido documentos sobre a indicação de um novo embaixador em Angola. A mesma fonte garante que Angola mantém contactos com o encarregado dos negócios da Guiné-Bissau junto ao MIREX.
“Pode significar retaliação”
A especialista em assuntos internacionais, Emília Pinto, diz que cartas credenciais são negadas quando “não há interesse de se legitimar” a figura diplomática escolhida ou “quando a escolha não é aceite de forma cordial pelo Estado que deve acreditar esta figura diplomática”.
Pinto afirma que há questões que devem ser esclarecidas pelos dois países, que têm ligações históricas. A analista defende acreditação dos diplomatas para a preservação dos laços diplomáticos entre os dois Estados e surge a necessidade de se ativar os mecanismos diplomáticos para dirimir conflitos de ordem política.
“Antes do envio de qualquer objeto oficial, após as alegadas acusações, não houve nenhum pronunciamento oficial – nem por parte de Angola, muito menos da Guiné-Bissau. Isso faz com que haja algumas questões por se esclarecer entre os dois países. Isso pode significar retaliação, pode significar hostilidade entre os Estados. Pode até mesmo comprometer relações diplomáticas tradicionais e históricas”.