O elevado número de mortes por malária em Luanda está a fazer disparar a venda de caixões nas agências funerárias da capital angolana. Os comerciantes afirmam que as urnas para crianças são as que têm mais procura.
Há um número elevado de angolanos a morrer por paludismo e febre tifóide nas periferias. Uma realidade que se comprova pelas enchentes nas portas dos hospitais, morgues e cemitérios. As agências funerárias também não ficam atrás. A venda de caixões cresceu nos últimos dias, afirmam gestores das agências.
No município do Kilamba Kiaxi, onde a DW África esteve, responsáveis de funerárias afirmam que anteriormente as vendas eram de uma ou duas urnas por semana. Agora, o número triplicou. Há agências que chegam a vender cinco a dez caixões por semana. Caixões de crianças são os mais procurados.
Blanchar Manzambi diz que até os carros das funcionárias já não repousam. “Esses dias até os nossos carros fúnebres não param. Logo que chegam, voltam porque são requisitados. Há muita morte. Em tempo normais, ficamos uma ou duas semanas sem vender. Se naquela semana ou mês, Deus enviar clientes, pode se vender uma ou duas caixas”, relata.
“A doença que mata os pobres é a malária”
Frederico Tomás, funcionário de outra funerária, afirma que a maior parte das urnas são compradas por familiares de pessoas que morreram de malária.
“Aos clientes, quando chegam, também perguntamos qual a causa da morte e a resposta é sempre malária. A doença que mata os pobres é a malária. O Governo está a se preocupar mais com a Covid-19, mas a malária e a febre tifóide mata mais”, diz Tomás.
Rita José conta que numa semana, a sua agência chegar ficou com o estoque esgotado por três vezes. “Aqui estava cheio de caixões. Já enchemos mais três vezes e os caixões continuam a sair. Caixões de crianças são os que saem mais”, conta à DW.
Nos últimos cinco meses, Angola registou mais dois milhões de casos que resultou num total de cinco mil e 573 óbitos em todo o país, segundo os dados divulgados na última quinta-feira (17.06) pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta.
A governante realça que apesar do aumento de casos de malária, houve decréscimo no número de óbitos em relação ao ano passado em 2020, sem, no entanto, especificar os dados comparativos.
Fome também é preocupante
O presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos, Adriano Manuel, diz que para além da malária e outras doenças, os elevados casos de mortes também estão relacionados com a fome.
“Aqui há uma questão que vale apenas realçar. Está diretamente relacionado com a fome. Aumentou o elevado índice de desemprego no nosso país e com isso também aumentou a fome no nosso país. Se antes já tínhamos um índice elevado de pobreza no nosso país, nos últimos tempos piorou”, afirmou o médico.
Já o investigador social Nuno Álvaro Dala defende mais investimentos no setor público da saúde em Angola. Para Dala, o índice de mortalidade é consequência das más condições de vida no país.
“Projeções indicam que cidadãos e cidadãs em Angola que vivem nestas condições rondam os 70%, como também há baixo investimento no setor da saúde. Há também problema da qualidade da competência do sistema da saúde no que diz respeito a atender as necessidades dos cidadãos e cidadãs em matéria de atendimento ou de tratamento das suas doenças”, lembra.