Organizações e activistas na Huíla e Benguela reagiram ao relatório da Amnistia Internacional hoje divulgado afirmando que é realista o aviso da organização sobre o perigo de fome que paira sobre milhões de angolanos no sul de Angola. Amnistia Internacional alerta que milhões de pessoas no sul de Angola estão à beira da fome
Belchior Chipala, do Espaço Sociedade Civil que coordena a acção das organizações não-governamentais na Huíla, diz compreender a posição da Amnistia Internacional (AI), já que a fome e os relatos de morte na região são factos indesmentíveis.
O responsável alerta que o tempo é de mobilização para acudir as pessoas em situação difícil neste momento.
“Precisamos de ser honestos e dizer que as ajudas não são suficientes para em função da necessidade que o povo tem e havendo mais pessoas, instituições que pudessem ajudar seria bom”, disse.
Para o engenheiro ambiental, Evanilton Pires, as alterações climáticas que estão a agravar a seca decorrem também da exploração desenfreada dos recursos nas zonas rurais.
Apesar de o país estar bem em termos de legislação sobre a protecção do ecossistema, é preciso encontrar um equilíbrio na prática sobre a forma como as comunidades lidam com os recursos disponíveis.
“Nós temos de ver duas questões: A primeira a protecção do ecossistema porque o ecossistema autorregula-se e assim ele mantém o factor clima equilibrado e a segunda questão precisamos de entender quais sãos os factores que estão a provocar esta alteração e isso são causas sociais, ou seja, as pessoas precisam de explorar o meio ambiente porque é do meio ambiente que elas tiram os seus recursos”, afirmou.
A FreeMindFreeWorld.Org tentou sem sucesso ouvir o parecer do Governo da Huíla sobre o assunto.
Em Benguela, não há surpresa também
Na província de Benguela, a associação cívica OMUNGA volta a defender maior sensibilidade política para a declaração de um estado de emergência, a fórmula, como salienta, para uma ajuda humanitária sustentável e de vários quadrantes.
Não havendo estado de emergência, solicitado igualmente pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, prevalecem ajudas da Presidência da República e de organizações filantrópicas.
Nada surpreendida com os dados associados à seca e alterações climáticas, após ter constatado a realidade em diferentes comunidades, a organização critica a forma como são distribuídas as assistências a nível interno.
João Malavindele, coordenador da OMUNGA e que esteve, recentemente, a radiografar zonas afectadas pela seca ,disse ter constantado uma situação “muito triste, uma situação que se arrasta”, acrescentando que tendo em conta o facto de que “a família africana é, por regra, extensa, por isso não vais dar dois quilos de fuba, servem apenas para comer um dia, e numa única refeição.
A OMUNGA faz parte de um conjunto de associações cívicas que pedem sensibilidade política ao Governo angolano “de modo a permitir uma maior intervenção, não só por parte do Estado , mas também de agências internacionais especializadas em questões de emergência”.
“Portanto, deve haver sensibilidade política da parte de quem governa o país, o Executivo devia ouvir o grito da sociedade”, sublinha o activista.
Enquanto isso, a economista Judith Mestre, formadora do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, considera que, agora mais do que nunca, o Governo deve definir prioridades.
“Há crise mundial, há crise em Angola, o próprio Estado deve definir prioridades, agora mais do que nunca, com base nos parcos recursos”, afirmou, lembrando que a “FAO, que se preocupa mais com a sustentabilidade alimentar e estudos para as camadas mais baixas, acha que devem aparecer as prioridades para o país neste momento”.