Cerca de 3,5 milhões pessoas estão a ser afetadas pela seca em Angola, a pior dos últimos 40 anos, e que já forçou a deslocação de quase mil pessoas, segundo um representante do PAM no país
Cerca de 3,5 milhões de pessoas estão a ser afetadas pela seca em Angola, a pior dos últimos 40 anos, e que já forçou a deslocação de quase mil pessoas, segundo um representante do Programa Alimentar Mundial (PAM) no país.
Michele Mussoni, que dirige o escritório daquela agência das Nações Unidas, adiantou que a seca atingiu não só as províncias do Sul, como o Namibe, Huila e Cunene, mas também o Huambo, Benguela e Cuanza Sul e afeta, segundo os dados de satélite recolhidos, relativos à precipitação e cobertura vegetal, cerca de 3,5 milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente 10% da população angolana.
O dirigente não revelou números sobre as pessoas que morreram devido à fome causada pela seca e as crianças que sofrem de desnutrição, pois está ainda a ser feita uma avaliação para recolher dados mais fidedignos sobre a insegurança alimentar.
Estas avaliação servirá também de base ao processo de mobilização de recursos para atender às necessidades do PAM que atualmente está concentrado em programas de assistência técnica ao governo de Angola.
Michele Mussoni explicou à Lusa que o PAM não está envolvido diretamente na distribuição de alimentos, pois não foi declarado o estado de emergência.
“O governo está a considerar a declaração do estado de emergência, está a consultar internamente e a conversar connosco neste sentido”, indicou.
Michele Mussoni considerou a situação “muito preocupante” e salientou que o PAM em Angola precisa de mais recursos para expandir os seus projetos nas províncias afetadas pela seca, estando a trabalhar com outras organizações na tarefa de mobilização desses recursos e, juntamente com o governo, a identificar medidas estruturantes que possam minimizar ou mitigar os efeitos destas secas crónicas no futuro.
O responsável do PAM destacou que a seca está a afetar a produção agrícola, que caiu consideravelmente por que depende quase exclusivamente das chuvas e repercutiu-se também na produção pecuária: “ficaram sem pasto e abeberamento do gado em algumas regiões, sendo estas as principais fontes de sustento das famílias rurais em Angola”, disse.
“Infelizmente, muitas famílias enfrentam uma situação de insegurança alimentar aguda pela redução da quantidade e qualidade do seu consumo alimentar”, complementou
Para sobreviver a crise e salvar os seus animais muitas famílias migraram para países vizinhos como a Namíbia, estando pelo menos cerca de 800 pessoas nestas circunstâncias, estimou Michele Missoni.
Com o prolongar da seca, o representante do PAM alerta para o surgimento de outros problemas na comunidade, em particular o aumento da desnutrição aguda, com consequências particularmente preocupantes para as crianças com idade inferior a cinco anos “que ficam mais suscetíveis a doenças”.
Michele Missoni notou que esta é uma emergência cíclica, mas que ocorre com cada vez mais frequência devido às alterações climáticas que afetam várias regiões de África e dos restantes continentes e considerou importante implementar algumas medidas estruturantes como a construção de infraestruturas para garantir a disponibilidade de água para abastecimento e para a produção agrícola e pecuária.
O especialista do PAM abordou também a importância de promover a diversificação de fontes de rendimentos e dos meios de sustento para reduzir a dependência da agricultura e da pecuária para que as famílias “possam resistir melhor” em anos de fraca produção.
No entanto, além destas medidas de médio e longo prazo, urge implementar intervenções mais imediatas, de emergência, para reduzir os efeitos da seca.
“Onde os níveis de desnutrição aguda já são bastante elevados, há necessidade de intervenção imediata. Outra medida imediata é proteger os meios de sustento, já que quando há uma crise alimentar as famílias vendem os seus bens para comprar alimentos e, dessa maneira, perdem todos os animais que tinham e esse processo não favorece o combate à pobreza”, sublinhou.