As praias em Luanda, capital angolana, estão desde hoje abertas ao público, depois de mais de ano e meio de interdição, o que agradou aos utentes, depois de tempos “de terror” e “de sufoco”, e surpreendendo alguns residentes
Apesar do número ainda tímido de pessoas, tendo em conta o facto de ser um dia útil da semana, alguns populares estavam informados, outros nem por isso, nas praias da ilha de Luanda, havendo quem comercializava bens alimentares e vestuário, ou aproveitasse a temperatura amena para um mergulho.
Algumas vendedoras ainda se questionavam sobre a notícia da reabertura das praias.
“É com muita surpresa, saí de casa, não contava e as minhas colegas me disseram que a praia está aberta”, referiu Deolinda Francisco, vendedora ambulante de roupas, entre as mulheres com dúvidas sobre a abertura das praias, que saiu de casa para trabalhar e “com muita surpresa” recebeu a novidade.
Deolinda Francisco contou à Lusa que viveu meses de “terror”, durante o período em que ficou impedida de comercializar os seus bens devido às medidas de prevenção e combate à covid-19, sendo este o único meio de sustento para alimentação e educação dos filhos.
“Nós, que dependemos das vendas daqui da praia foi muito triste para nós”, disse a comerciante, afirmando que sobreviveu com a ajuda do marido.
A vendedora constatou que as praias ainda estão vazias, o que justificou com “medo da polícia”, sublinhando que, durante a proibição do uso das praias, muitas pessoas foram detidas pelas autoridades policiais.
Suzete Lopes, que se dedica a um negócio de venda alimentar, também só hoje soube que o acesso às praias voltou a ser permitido, notícia que recebeu com satisfação, porque é na ilha “onde procura o pão” para os filhos.
“As pessoas vão gostar, vamos ter mais clientes, vai ser muita mudança, principalmente para o nosso lado, porque precisamos do dinheiro deles e eles da nossa comida, por isso é que estamos contentes”, afirmou Suzete Lopes, que ficou durante todo o tempo de proibição em casa.
A comerciante contou que algumas colegas durante a proibição iam fazendo vendas às escondidas da polícia, mas Suzete preferiu ficar em casa e “vender torresmo, só para não ficar sem dinheiro”.
Por sua vez, Carina Alves, estudante e ‘influencer’ digital, ficou a saber da abertura das praias a partir das notícias, manifestando contentamento, já que a família tem o hábito de conviver na praia.
“Então, estou bastante feliz, porque nós vamos poder estar juntos novamente”, referiu, que tinha saído da universidade para a ilha.
Questionada sobre o período que viveu longe das praias, a estudante disse que se sentiu “bastante triste e sufocada”.
“Porque a praia deixa-me livre e bem, acho que a todo o mundo”, salientou.
O mesmo fez Geovana Oliveira, estudante, que se deslocou à ilha de Luanda para apreciar o mar, mesmo sem saber da abertura ao público.
“Fiquei só a saber depois de estar cá. Tinha mesmo saudades do mar, quis sentir este cheiro, o barulho do mar, é o que me fez chegar até aqui”, explicou a estudante, que estava acompanhada de uma amiga.
Geovana Oliveira, que acha que a reabertura das praias vai deixar as pessoas “bastante felizes”, não teme um aumento dos casos de covid-19, apesar de ter sido este o motivo do encerramento, em março de 2020, quando os primeiros casos foram notificados no país.
“Primeiro, porque já temos as vacinas disponíveis e porque todo o mundo já sabe os devidos cuidados que tem que ter, então acho que não vai aumentar os casos” de covid-19, frisou.
Angola começou a ensaiar este mês um regresso à normalidade com novas medidas de combate à pandemia de covid-19, incluindo o fim da quarentena para quem tiver a vacinação completa e a abertura a partir de hoje das zonas balneares.
Até terça-feira, o país tinha registado um total de 51.047 casos confirmados, dos quais 1.358 óbitos e 4.276 ativos, com 45.413 recuperações da doença.
A covid-19 provocou pelo menos 4.646.416 mortes em todo o mundo, entre mais de 225,72 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.