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Angola: “Não me parece viável que haja grupos fortes para abalar o MPLA”

Quem o diz é o médico angolano Manuel Videira, que no seu novo livro “Angola: Um Intelectual na Rebelião” traça os altos e baixos do MPLA. Para o ativista Adolfo Maria, a vitória do partido em 2022 não está garantida.

No poder há mais de 40 anos, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) conheceu vários momentos de crise ao longo da sua história. “Essa fase das contestações internas com a formação de alas já está ultrapassada pelo MPLA. O MPLA é um dos partidos mais antigos de África. É um partido que tem 60 a 70 anos de existência”, comenta Manuel Videira, antigo coronel das Forças Armadas Angolanas (FAA), sobre a força política liderada atualmente por João Lourenço, também Presidente da República de Angola.

As declarações de Manuel Videira aconteceram recentemente durante o lançamento, em Lisboa, do livro de sua autoria “Angola: Um Intelectual na Rebelião”. A obra, lançada pela editora Guerra e Paz, faz parte das memórias do autor registadas durante a luta de libertação de Angola.

Antevendo as eleições gerais de 2022, o antigo médico, formado em Coimbra, admite que dificilmente crises como as que se registaram no passado poderão abalar o lugar que o partido ocupa no xadrez político atual.

“Pode ser que apareçam grupos contestatários, mas não me parece viável que haja grupos suficientemente fortes para poder abalar as estruturas”, refere.

No livro, Manuel Videira escreve sobre as divergências no seio do MPLA e entre os movimentos independentistas, acabando por narrar também a guerrilha na Frente Leste e a Revolta Ativa. O racismo, as alegrias, as desilusões e a repressão que se seguiram à independência nacional, em 11 de novembro de 1975, são temas também abordados na obra.

Agostinho Neto vs Viriato da Cruz

No texto, Manuel Videira opina que a crise provocada pelas divergências político-ideológicas entre Agostinho Neto e Viriato da Cruz, considerado este último o verdadeiro fundador do MPLA, tinha especial relevância em Angola.

“Viriato da Cruz, que era um grande revolucionário e um grande nacionalista, tinha algumas ideias sobre a participação dos intelectuais na luta que não se coadunavam com as orientações gerais do movimento, que ele próprio tinha criado. Porque foi Viriato da Cruz quem redigiu os primeiros estatutos e regulamento do MPLA”, frisa.

“Esse desentendimento foi motivado por argumentações políticas e pessoais. Estranhamente, Viriato sentiu-se como que desprezado por Agostinho Neto e iniciou então uma campanha de calúnias e de preconceitos contra a sua presidência, de tal modo que Agostinho Neto às tantas se recusou a continuar a colaborar com Viriato”, acrescenta.

MPLA dividido, diz analista

Adolfo Maria, outro nacionalista angolano, que apresentou o livro de Videira na passada sexta-feira (15/10), considera que aquele período histórico, marcado por momentos de grandeza, mas também de divisões sucessivas, foi relevante para a vida de muitos jovens militantes que se entregaram generosamente à luta de libertação.

O ativista político afirma que, neste momento, o MPLA sofre de “um desgaste evidente”.

“O MPLA está dividido entre si. O último acontecimento é o aparecimento de uma tendência, encabeçada por Ruth Neto, a irmã de Agostinho Neto, para apresentar uma moção de estratégia e um concorrente à liderança no próximo congresso do MPLA”, adverte.

Sobre as eleições gerais de 2022, deixa o alerta: “Sabemos que o poder do MPLA não será eterno. Não sabemos como é que as coisas se vão passar”.

“Neste momento, há uma tensão política muito forte em Angola e o MPLA não está habituado a perder e há quem diga que há perspetivas de perder. Portanto, tudo pode suceder, inclusivamente coisas graves”, assevera.

O analista angolano recorda que a oposição tem vindo a organizar-se, mas entende que ainda é preciso perceber qual a estratégia da recém-constituída Frente Patriótica Unida (FPU), integrada pela UNITA, PRA-JA e Bloco Democrático. “2022 vai ser um ano para seguir com muita atenção em Angola”, conclui.

 

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