Portugal foi usado como pretexto para lavagem de dinheiro sujo proveniente de Angola, avança o ‘Correio da Manhã’ (CM), com base nas revelações de Paulo de Morais, uma das testemunhas do caso ‘Luanda Leaks’.
O imponente Estoril Sol Residence, um projeto polémico do arquiteto Gonçalo Byrne completado em 2010 às portas de Cascais, ficou conhecido como ‘o prédio dos angolanos’. Só o então ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, Pitra Neto, tinha cinco apartamentos, quatro deles em nome da filha, estudante.
O ex-ministro das Finanças de Angola, José Pedro Morais, e Noé Baltazar, antigo diretor da empresa estatal de diamantes, a Endiama, também tinham casas de luxo com vista no Estoril Sol Residence.
Os angolanos mais conhecidos da reunião de condóminos do Estoril Sol Residence eram o banqueiro Álvaro Sobrinho, que comprou seis apartamentos, e o então vice-presidente, Manuel Vicente. O político, que tinha sido presidente da Sonangol, a empresa estatal de petróleos de Angola, ficou com o 9º andar, por 3,8 milhões de dólares, pagos através de sociedades offshore, usadas também para a compra de dois outros apartamentos, que acabaram nas mãos dos poderosos generais ‘Kopelipa’ e ‘Dino’.
Este caso é apenas um dos muitos exemplos dados por Paulo Morais para garantir que Portugal serviu para lavar dinheiro de Angola e a Justiça portuguesa foi sempre subserviente àquele país.
“Quando tentámos investigar Manuel Vicente foi impossível, devido à interferência do primeiro-ministro e do Presidente da República. O caso passou para Angola e sabemos que nada acontecerá a Manuel Vicente, porque ele tem imunidade de cinco anos por ser ex-vice-presidente, tendo ainda uma amnistia para o salvar em caso de condenação”, diz Paulo Morais, que garante que o caso expôs a enorme promiscuidade dos sistemas político, financeiro e judicial português à corrupção em Angola. “Passamos a ser vistos internacionalmente como a ‘lavandaria’ dos corruptos angolanos. E agora só investigamos a filha do ex-presidente porque ela caiu em desgraça no seu país.”
30 dos 110 apartamentos no Estoril Sol Residence estavam em 2010 na mão de políticos e generais angolanos. Os preços variavam entre um milhão e cinco milhões de euros.
6 apartamentos pertenciam a Álvaro Sobrinho, ex-homem-forte do BES Angola, ex-amigo de Ricardo Salgado e maior acionista individual do Sporting.
33 imóveis foram arrestados a Álvaro Sobrinho, na sequência de uma investigação por branqueamento. Foi decidido por Carso Alexandre e a decisão foi revertida pelo ex-juiz Rui Rangel.
20 milhões de euros foi o montante que a Holdimo gastou em Alvalade. Foi pago em três tranches e tornou a empresa de Sobrinho na maior acionista.
Segundo a testemunha, este caso expôs a enorme promiscuidade dos sistemas político, financeiro e judicial português à corrupção em Angola. “Passamos a ser vistos internacionalmente como a ‘lavandaria’ dos corruptos angolanos. E agora só investigamos a filha do ex-presidente porque ela caiu em desgraça no seu país”, conclui.