A filha de José Eduardo dos Santos acusa o chefe de Estado angolano de não ter impedido “inúmeras violações aos estatutos do partido e à Constituição”.
No dia em que o Presidente de Angola, João Lourenço, formalizou a sua intenção em concorrer à liderança do MPLA, Tchizé dos Santos, antiga deputada e filha do antigo Presidente angolano José Eduardo dos Santos, pediu esta quarta-feira a impugnação da sua candidatura. Um outro militante, António Venâncio, prepara-se para entrar na corrida, mas denunciou um “bloqueio” no processo para a candidatura por parte de “antidemocratas”.
Numa mensagem divulgada na sua página de Instagram, Tchizé dos Santos acusa João Lourenço de não ter conseguido “manter a coesão do MPLA” e de não ter resolvido “problemas básicos” do país, “para além de [não ter impedido] inúmeras violações aos estatutos do MPLA e à Constituição da República”, denunciando ainda que “as instituições judiciais estão à prova”.
Por isso, defende que o Presidente angolano “deve dar o lugar a outros” para “concorrer[em] para o bem do MPLA e de Angola”. “João Lourenço não é o único candidato para representar o MPLA e muito menos o único que tem que ser eleito para Presidente de Angola em 2022”, relembrou. O congresso do partido está marcado para Dezembro.
A antiga deputada – o seu mandato foi suspenso em Outubro de 2019 – espera que o seu “pedido de impugnação à candidatura do cidadão João Lourenço à presidência do MPLA” receba o mesmo tratamento dado ao “pedido de impugnação do congresso que elegeu o presidente da UNITA Adalberto da Costa Júnior”, líder da oposição angolana.
O pedido surge um dia depois de António Venâncio, o primeiro militante do partido a manifestar publicamente a sua intenção de concorrer contra João Lourenço, ter denunciado à Voz da América (VOA) o “bloqueio” ao processo de recolha das duas mil assinaturas necessárias à apresentação da candidatura por parte de “antidemocratas”.
Nesse sentido, afirmou que a campanha antecipada que decorre a favor de um dos concorrentes viola os estatutos do partido e adverte que, se esta “prática antidemocrática” continuar, “pode ser motivo de conflitos jurídicos”.
Acusou também a imprensa pública e a outras instituições do Estado de tentarem inviabilizar a sua candidatura a favor do actual Presidente: “Há muito silêncio, inexplicável, sobre isto tudo que estamos a exercitar ao nível do partido”, disse.
No sábado passado, o comité provincial do MPLA em Luanda organizou uma marcha em apoio à candidatura de Lourenço. Em contraste, Venâncio ainda não recebeu apoio público de membros do partido e tem ficado de fora da cobertura dos principais meios de comunicação controlados pelo Governo.
Para o analista Osvaldo João, a ideia de haver várias candidaturas à liderança do partido é apenas um truque de “manipulação” para mostrar que há uma “suposta” democracia interna, disse à emissora DW.
O analista Vicente Pongolola partilha da mesma visão e afirmou à VOA que o anúncio da candidatura de João Lourenço “seria normal se o MPLA fosse um partido aberto”. Mas “o MPLA é um partido retrógrado e não é democrático, tanto é assim que o outro candidato não está a ter o espaço necessário”, explicou.