Analistas alertam para grave crise na UNITA. Militantes que pediram impugnação da reunião que convocou o Congresso de dezembro deverão ser alvo de um processo disciplinar e até suspensos dos órgãos de direção do partido.
Analistas em Luanda são unânimes em afirmar que há uma “crise sem precedentes” instalada no maior partido na oposição, que já não pode ser atribuída a interferências vindas do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder.
Este entendimento surge dias depois de um grupo de militantes e membros da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ter posto em marcha um requerimento de impugnação da reunião que convocou o Congresso para dezembro próximo, depois do Tribunal Constitucional ter anulado o conclave de 2019, que elegeu Adalberto Costa Júnior como líder do partido.
Fonte ouvida pela DW África junto da comissão de ética e disciplina do partido garante que os subscritores desta petição serão alvo de processos disciplinares e, consequentemente, suspensos dos órgãos de direção do partido.
“Há uma clara violação e indisciplina de se inviabilizar o bom funcionamento do partido, ao se pretender não acatar o desejo da maioria que votou pela realização do Congresso em dezembro”, ou seja, mais de 90% membros que compõem a Comissão Política, explica fonte.
Crise interna
O consultor político Walter Ferreira entende que a crise na UNITA deve-se à descontinuidade da sua ideologia política. “Há aqui uma crise política dentro da UNITA, que num primeiro momento foi observada como tendo origem no partido no poder, por pessoas que tinham interesse em ver o fim da UNITA. Havia uma opinião generalizada de que havia uma mão do poder. Mas o que observamos hoje é que há uma crise interna e esta crise é desencadeada por um descontentamento, diria mesmo por descontinuidade ideológica”, argumenta.
José Gama, jornalista angolano radicado em Pretória, insiste no argumento de que o atual momento político vivido no maior partido na oposição deve-se a interferências do regime do Presidente da República.
“Isto depende agora da própria UNITA, porque com Adalberto Costa Júnior a UNITA pode não ganhar as eleições, mas pode provocar um equilíbrio parlamentar. Adalberto Costa Júnior está com uma popularidade enorme e João Lourenço não o quer como concorrente”, diz.
“A SWAPO está a estudar o MPLA”
Gama faz uma comparação entre Angola e os restantes países da África Austral, onde os partidos que proclamaram as suas independências têm vindo a perder eleições nos últimos cinco anos, como por exemplo na Zâmbia e no Zimbabué.
“Por exemplo, a SWAPO (partido no poder na Namíbia), olha para este fenómeno e acha que o MPLA será o próximo a ir para a oposição. Eles notam a reação que o próprio partido no poder em Angola está a ter, ao ponto de usar os tribunais para eliminar ou afastar um dos seus principais adversários. E, em forma de prevenção, a SWAPO está a estudar o MPLA de forma a não cometer os mesmos erros que o Presidente João Lourenço está cometer”, conclui.
Walter Ferreira considera que a crise atual põe em causa a sobrevivência do partido do “Galo Negro”. “Esta é uma crise que vai perdurar, que se vai alongar e que pode ter consequências muito graves e pode, inclusive, ameaçar o futuro desta organização que vem dos movimentos de libertação”, alerta o consultor político.