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Angola: Governo faz entrega dos “restos mortais” de dirigentes da UNITA, 29 anos depois

O Governo angolano entregou hoje os restos mortais de dois dirigentes da UNITA, maior partido da oposição, mortos nos confrontos de 1992 em Luanda, ato que para familiares e dirigentes políticos simbolizou a reconciliação

Os restos mortais de Adolosi Paulo Alicerces Mango, então secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e de Salupeto Pena, representante do partido na Comissão Conjunta Político-Militar, foram hoje entregues numa cerimónia conduzida pela Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação das Vítimas de Conflitos (CIVICOP).

Em declarações à imprensa, o líder da UNITA, Isaías Samakuva, considerou que o ato teve um significado “bastante profundo, de reconciliação e de perdão”.

“Acho que o dia de hoje é muito importante na história do nosso país e para as famílias daqueles que pereceram”, referiu o presidente da UNITA, reconduzido em outubro na liderança do partido na sequência de uma decisão do Tribunal Constitucional que ditou o afastamento de Adalberto da Costa Júnior, eleito no XIII Congresso, em 2019.

Isaías Samakuva considerou ainda importante que gestos desta natureza não só se repitam, por haver muitos casos no país, mas que sirvam também de reflexão para todos os cidadãos nacionais, porque “é doloroso ver os angolanos desavindos”.

“A ponto mesmo de não se identificarem como nacionalistas ou como nacionais, como angolanos, antes as pessoas preferem identificar-se pela cor do seu partido, pela filiação do seu partido. Creio que estamos na hora de passar por cima disso, de aprendermos com as lições do passado e também começarmos a ver-nos como filhos da mesma pátria, criar unidade entre nós e trabalharmos para o desenvolvimento do nosso país, consolidação da paz e que a estabilidade reine no nosso país”, frisou.

Segundo o líder da UNITA, atos desta natureza vêm reforçar a pacificação de espírito dos angolanos, não fazendo sentido presenciar um ato desta natureza e continuar “a andar em problemas, em contradições, insultos e abusos”.

“Temos de pegar no passado e fazê-lo como uma escola, que nos deixou lições amargas, dolorosas, que devem ser ultrapassadas”, salientou.

Isaías Samakuva corroborou a posição do Governo, que defende que se esqueça o passado e não se procure culpados nessa altura.

“Eu acho que sim, se nós hoje começarmos a apontar os dedos a um ou outro nunca sairemos daí, estaremos a criar situações mais complicadas. Costumo dizer que ao fim e ao cabo vítimas fomos todos, culpados fomos todos e responsáveis fomos todos, portanto, não vale a pena apontar dedo a este ou àquele, agora é o momento de olharmos para frente, com coragem e com unidade”, sublinhou.

A data para o enterro não foi ainda definida, informou o presidente da UNITA, estando nesta altura familiares e a direção do partido a sincronizar o plano de atividades.

De acordo com Isaías Samakuva, o programa vai ser organizado com calma e tranquilidade, para ser anunciado na devida altura.

Para Esteves Pena, irmão de Salupeto Pena, este é um ato de reconciliação nacional. O homem já participou em outros momentos na cerimónia de entrega dos restos mortais do general Ben Ben e do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi.

“É doloroso, mas para a reconciliação nós estamos dispostos, que isso seja um exemplo para todos os angolanos, que a reconciliação é necessária”, disse Esteves Pena.

Enalteceu o privilégio de terem recebido os restos mortais do seu irmão, o que “nem todos terão”, concordando que não se deve olhar para o passado e nem encontrar culpados, porque “reconciliar é mesmo esquecer e ir para frente”.

Por sua vez, Alicerces Mango, primogénito do então secretário-geral da UNITA, expressou que o sentimento é de tristeza e emoção, porque já era altura de enterrar o seu pai “com toda a dignidade”.

“Porque sabemos que, em África, os mortos só morrem depois de serem sepultados e também o sentimento é de alegria, porque finalmente, depois de 29 anos, houve esta responsabilidade, este cuidado de acautelar esse sentimento profundo das famílias, para nos serem entregues os restos mortais do nosso pai, tio, avô”, disse.

Alicerces Mango considerou “um ato corajoso”, o pedido de perdão público efetuado pelo Presidente angolano, em 2020, a todas as vítimas dos conflitos políticos registados em Angola desde 1975 a 2002, ano em que terminou a guerra no país.

“Porque já era tempo que a nação angolana se reencontrasse para que paremos de exibir as camisolas dos partidos políticos, para que os angolanos possam conviver, viver e partilhar os mesmos momentos e esse sinal dado pelo Presidente da República devia também motivar atos singulares. Quem acha que fez mal ao outro devia ter coragem de pedir perdão para que Angola caminhe num rumo verdadeiramente unido”, salientou.

No entanto, realçou que este é o momento de “testar atos e teorias”.

“Estamos agora a fazer confiança neste ato, houve uma teoria, houve uma intenção, foi materializada e vamos esperar os próximos passos, se de facto a nossa reconciliação está mesmo a caminhar no bom rumo”, destacou.

 

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