A exoneração de Júlio Bessa do cargo de governador provincial do Cuando Cubango em detrimento de José Martins levanta um velho e crónico problema nas instituições públicas e nos partidos políticos em Angola: o tribalismo.
Basta olhar para os “critérios subjectivos” na hora de indicação de titulares de cargos públicos, de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luau (apesar de raríssimas excepções), para notar os tentáculos do tribalismo reinante no funcionalismo público e não só.
De acordo com alguns portais de informação, Júlio Bessa está a ser investigado na PGR por tentativa de desvio de 600 milhões de dólares, facto já desmentido pela PGR. Por seu turno, José Martins, nomeado para a referida vacatura nem sequer tomou posse, muito menos aqueceu o “banco” do Palácio da provincial, após denúncias que dão conta que o também primeiro Secretário provincial do MPLA tem recebido, ilegalmente, subsídios destinados à deficientes de guerra.
Longe de julgar “Santos e Pecadores”, importa referir que as supostas denúncias têm motivações tribais. No ânsia de destilar ódio e o tribalismo contra Julio Bessa acabaram por destapar o véu das “malambas” de quem queriam ver Governador. Tentaram o assassinato de carácter contra Julio Bessa, por causa do tribalismo, recorrente, hoje sujeitam-se, uma vez mais, adiar o desenvolvimento da província, que nos últimos anos passou a ser rotulada por “Terras do Progresso”.
A exoneração/nomeação do governador do Cuando Cubango (CC) espelha bem essa realidade. Querelas internas, alimentadas por questões regionalistas e/ou tribais adiam o progressoda província, fazendo jus ao título de “Terras do Fim do Mundo”.
Importa realçar que o caso do CC não é isolado no País. Não é preciso passar a pente fino os departamentos ministeriais, governos provinciais, sector bancário, incluindo estruturas hierárquicas de partidos políticos para perceber como funciona o compadrio, onde a meta é “acomodar os nossos”.
Recentemente, durante o consulado do malogrado Sérgio Rescova à governador do Uige levantou-se o “fantasma” de tribalismo na sua prematura governação local. Mas, o caso não é isolado. A título de exemplo, províncias como Cabinda, Benguela, Cuanza Sul e Norte, Lundas, só para citar, são frequentes relatos de surgimento de “grupos de pressão” forjados, no executivo local ou no partido, para dificultar à vida ao novo inquilino do Palácio do Governo local.
O tribalismo é a fonte de todos os males em Angola, visto que fomenta a corrupção e, consequentemente, a má governação. Este mal destrói o tecido social, promove a fuga de quadros para diáspora e retrai o investimento privado nacional.
O poder “mágico relogioso”, vulgo feitiço/magia-negra tem sido a “arma branca” usada para intimidar e aniquilar adversários de ocasião. Temos consciência que para muitos trata-se de uma abordagem dogmática, ou seja, é um “não-assunto”, daí que raramente é discutido em hasta pública, mas que na prática leva alguns gestores públicos e/ou cidadãos, que almejam prosperidade, a fazerem pactos com demónio.
O pior é que muitos africanos ficam revoltados quando o Ocidente afirma que “o africano (negro) não lê” e continua envaidecido ao seu legado pré-histórico, e acorrentado a um pensamento do terceiro mundo. Ou seja, entre nós, os “egos” falam mais alto que o bem-comum, dando lugar à conflitos de interesses étnicos e/ou culturais, tornando o tribalismo o principal carrasco que mantem o subdesenvolvimento dos respectivos países.
O lado bom é que esse mal tem cura. Os países desenvolvidos (Europa e América) também passaram por esse estágio, mas souberam contornar o problema, dando primazia à meritocracia, em nome de uma prosperidade económica sustentável.
Mas do que nomear e exonerar, construir estradas, pontes, escolas e hospitais (muitos equipamentos sociais sem qualidade) é necessário definir políticas públicas concretas para pôr fim aos confrontos culturais, salvaguardando o respeito mútuo dos hábitos e costumes.
Para tal urge a necessidade de se erradicar ao analfabetismo e a pobreza, colocando ponto final à oposição sistemática a todo o progresso intelectual ou material. Trocando em miúdos, é preciso construir sociedades mais democráticas, inclusivas e mais justas, e deixar para traz comportamentos nefastos que têm atrasado o crescimento e desenvolvimento sustentável que se pretende no País.
Na verdade, “a roda já está inventada” e a “manutenção do erro” talvez justifica-se para que o angolano continue a ser vítima de cegueira intelectual, pobreza extrema, e outros males que alimentam as guerras internas nas instituições públicas e/ou organizações partidárias, garantindo assim a manutenção no poder dos saqueadores do erário público.