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Angola: Investimentos na saúde primária devem ser “prioritários”, exigem médicos grevistas

Adriano Manuel, presidente do Sindicato dos Médicos Angolanos, defende mais investimentos nos hospitais municipais, onde há grandes enchentes. Os médicos iniciaram esta segunda-feira, (06.12), uma greve nacional.

Em Angola, os médicos estão em greve para exigir salários justos, melhores condições de trabalho e mais enquadramento nos hospitais do país. A greve, que começou esta segunda-feira e que irá durar até a próxima sexta-feira, (10.12), também é uma demonstração de solidariedade para com o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (SINMEA), Adriano Manuel, suspenso há 13 meses por denunciar mortes de crianças no Hospital Pediátrico de Luanda.

Há anos que os médicos angolanos reivindicam os seus direitos, mas o clamor não é atendido pela entidade patronal, o Ministério da Saúde. Na última sexta-feira, (03.12), o ministério abandonou as negociações com o sindicato médico.

A DW África esteve nos principais hospitais de Luanda e constatou a suspensão dos serviços de consultas externas com exceção do banco de urgência. No Hospital do Prenda os técnicos de saúde pedem mais valorização e o médico interno de cirurgia geral, Pacrâncio Pumbo, pede mais dignidade para os profissionais.

“O médico que salva vida não pode ser o mesmo que passa dificuldade, que nem transporte tem, nem casa tem. Isso é insuportável. Até certo ponto, o povo depois se cansa. É isso que registamos. Já resistimos bastante. Temos trabalhado e é necessário que haja melhores condições de trabalho e de vida. Precisamos de respeito, precisamos dignidade, precisamos ser bem assistidos conforme a nossa dedicação”, apela.

Há anos que médicos angolanos reivindicam os seus direitos, mas o clamor não é atendido pelo Ministério da Saúde.

Disparidade salarial

Já o cirurgião Benvindo Paxi também questiona a disparidade salarial entre os trabalhadores do setor público em Angola.

“Sou médico e ganho 270 mil kwanzas (423,22 Euros) e porque é que um empregado de limpeza da Sonangol ganha 600 mil kwanzas (940,48 Euros)?”, questiona para depois afirmar: “E eu que sou médico ganho um salário paupérrimo. Isso não é justo. Penso que um país que se respeita devia tratar bem o seu médico e o professor”.

Os médicos queixam-se que o salário não serve para atender os seus problemas sociais e clamam ainda por assistência médica. Nos hospitais, apesar das grandes estruturas físicas, falta tudo, segundo o cirurgião.

“Temos poucas camas para os pacientes. Há falta de certos medicamentos que os pacientes têm de encontrar fora dos hospitais. Temos limitações para tratar certas patologias por falta de condições. Sou cirurgião e aqui falta muita coisa. Estou limitado de fazer certas cirurgias por falta de condições. No hospital onde estou não se faz tratamento endoscópico. Há muito pacientes que morrem por uma hemorragia digestiva”, lamenta.

Falta (quase) tudo

A greve é apoiada por vários utentes que se dirigiram esta segunda-feira (06.12) aos hospitais. Na portaria do Hospital do Prenda, a utente Beatriz Valente também denunciou a falta de medicamentos, seringas, luvas e criticou as péssima condições de trabalho submetidas à classe médica. Reunião entre o Sindicato e o Ministério da Saúde foi abortada por falta de consenso entre as partes.

“Apoio porque eles são os nossos médicos. São eles que garantem a saúde para os nossos filhos. Se eles ‘médicos’ não estiverem bem, não há saúde. O médico doente vai atender outro doente? Estão a fazer a greve com justa causa. Precisam se alimentar. Tanto os doentes como os funcionários, não têm direito à água. Como é que vão trabalhar? As casas de banho estão em maus estado”, diz.

Na última sexta-feira (03.12), a reunião entre o Sindicato e o Ministério da Saúde foi abortada por falta de consenso entre as partes. Adriano Manuel, presidente do Sindicato, diz que a comissão sindical está aberta ao diálogo.  Por outro lado, o médico suspenso das suas funções defende mais os investimentos nos hospitais municipais, onde se registam grandes enchentes.

“O Governo tem investido muito no sistema de saúde coletivo quando deviam investir na prevenção. Todo o investimento que está a ser feito atualmente, não é que não aceitemos. Achamos que estão a investir onde deviam investir mais tarde. Deviam investir no sistema de saúde primário. Deviam colocar materiais e medicamentos nos postos de saúde e nos hospitais municipais onde os laboratórios são escassos”.

Numa nota citada pela Rádio Nacional de Angola, o Ministério da Saúde também disse estar disponível para voltar a dialogar com os médicos.

 

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