O antigo Primeiro-ministro angolano, Marcolino Moco disse que em muitos debates que vê ou ouve, alguns intervenientes insistem que os problemas graves que o país enfrenta, hoje, derivam da bipolarização política do país, entre o MPLA e a UNITA, adiantando que não vê assim as coisas.
De acordo com Marcolino Moco, não é de todo em todo justo, dizer que a UNITA, arredada da guerra de cujos estragos foi, em certo sentido, corresponsabilizada, com o governo do MPLA, possa ser, hoje, responsabilizada pela governação dos últimos 20 anos.
“Também começa-se a ouvir muito a expressão masoquista do tipo: “somos todos culpados”, referindo-se ao facto de muitas das franjas da nossa sociedade não reagirem perante actos flagrantes de injustiça e a instrumentalização da descarada da comunicação social e da Justiça”, refere Moco.
O analista sublinhou que antes disso, há mesmo o caso generalizado de elementos da sociedade mais inconformados com o rumo das coisas, que são veementemente desestimulados pelas famílias e amigos, para não agirem ou sequer pronunciar-se sobre o que quer que seja, não fiquem sem um pãozinho para “relativizar a fome” ou não lhes aconteça mesmo o pior.
Ontem, realçou, intervindo numa conferência intitulada “Repensando Angola: Caminhos certos para a paz e o desenvolvimento sustentável”, organizado pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz da CEAST, com a ajuda da Igreja Noroeguesa, não tive dificuldades em apontar quem são os responsáveis da situção calamitosa que se vive e dos medos que invadem os espíritos, mais uma vez e desnecessariamente.
Segundo Marcolino Moco, passada a fase de guerra, os responsáveis são os que têm governado Angola durante estes últimos anos, com todos os recursos que lhes tem passado pelas mãos, sendo o maior, o próprio calar das armas. “Não vamos tergiversar”.
“Quem nos tem semeado tantos medos com mortes estranhas de que não se esboça uma explicação, como a do Eng, Mfulupinga Lando Vitor, prisões lúgubres como a de Zecamutchima, julgamentos estranhos como o de um religioso Kalupeteca e destituições induzidas do poder tradicional como a de um outro Kalupeteka este, Rei do Bailundo? Com alguns desses casos tendo lugar depois de gestos de pacificação sobre factos do passado, como o início da regularização do caso 27 de Maio, algo que só pode merecer credibilidade de genuinidade se imergirmos, de facto, num presente reconciliado?”, questionou.
Observou no entanto que, mesmo quando estava claro que no tempo em que se experimentou uma forma mais estadista de actuação, o Presdente João Lourenço teve a sua vitória eleitoral para 2022, tão claramente garantida, o homem e todos aqueles que acham que desse lado têm sempre razão, preferem a “trungunguisse” do “assassinato de carácter (ficaremos por aqui?)” dos adversários políticos e da banalização do trapaça política que lhes baixa extraordinariamente o resultado das sondagens.
“Acabei de ler um post do incansável interventor público, o meu amigo mais novo Ismael Mateus que diz ter saído do mesmo encontro desencantado, por só ter ouvido mesmices da crítica sem soluções”, disse.
O antigo Primeiro-ministro, disse que uma das jovens participantes pode ter dado a resposta: “falar o quê, se não temos onde possamos ser ouvidos? Eu falei da necessidade de ressuscitar similares de associações apartidárias que não deviam ter cessado a sua actividade antes e depois da guerra e que ficaram bem sossegadas depois do fim do “eduardismo”, antes do fim da breve “primavera lourencista”: Coiepas, Acas e Amcs, para tentar convencer, na paz e tranquilidade, os poderosos desses últimos 20 anos de paz, que é possivel exercermos as nossas disputas políticas sem acelerações artificiais de conflitos e arranjar culpados que sejam só “os outros”.
“Não é boa proposta, esta? Claro que não é de se esperar grandes vontades de quem tem extraordinários instrumentos de conssulta (como o Conselho da República) e não os usa para questões essencias”, denunciou.
Mas, acrescentou, da cidadania, especialmente a anciã, não se devia esperar por um cruzar ou baixar de braços. “Penso”.