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Angola: Professores tornam-se taxistas devido à crise

Professores trabalham como taxistas para completar a renda no Bengo. Os chamados “taxistas de ocasião” são cada vez mais comuns, e o Governo adverte que docentes podem não cumprir tarefas normais por falta de tempo.

Não é difícil encontrar professores a trabalhar como taxistas na província angolana do Bengo. Do pouco tempo que estivemos numa das paragens de Caxito, foi possível notar a presença de mais de cinco docentes ao volante.

“É de entender que um professor espera no fim do mês o salário cair. Com a situação [económica] do momento, [sempre] tem uma preocupação que deve atender a tempo e hora, e ainda estamos na primeira quinzena do mês”, explica um homem que trabalha como professor há 18 anos e aceitou falar com a reportagem da DW África sob anonimato.

O entrevistado revelou que recebe um salário de 100 mil kwanzas (o equivalente a quase 130 Euros), mas a sua renda mensal já não está a ser suficiente. Ele encontrou no trabalho como taxista uma fonte complementar para a sobrevivência.

Por seu turno, o taxista Gaspar Domingos está na profissão há 12 anos. Ele não vê mal algum em ter um professor como concorrente. “Primeira coisa, talvez o salário [que recebe como professor] não vai em conta com as suas despesas. Então, às vezes, algumas pessoas são mesmo obrigadas a fazer serviço de táxi. Talvez assim consigam cobrir algumas necessidades”, sugere Domingos.

“Taxistas de ocasião”

Muitas vezes, os estudantes são transportados da escola para a casa pelos próprios professores. É quando os docentes se tornam os chamados “taxistas de ocasião”. Os estudantes Maria João e Luís da Glória compreendem as necessidades pelas quais passam os docentes.

“Se for no tempo livre, eu acho um ato normal, porque cada um é livre para escolher o que tem por fazer. Mas, se for no tempo em que deveriam dar aula e deixarem de dar aula para fazer táxi, acho incorreto, porque a sociedade precisa do professor”, opina Maria João.

Para Luís da Glória, é preciso entender porque os professores estão a fazer isso. “Pode ser atraso salarial, a situação que o país está a enfrentar… Se fosse no meu caso e com um salário apertado, eu também meteria a minha viatura a fazer táxi”, cogita.

“Tropessor”

O Sindicato Nacional dos Professores está atento ao aumento de professores na profissão de taxista. O porta-voz Paulino Ngongo Mbaxi reconhece a situação económica e financeira pela qual passam muitas famílias. “Eu gostaria de olhar na vertente do custo de vida de todas as famílias, em especial a do próprio professor. Na verdade, temos olhado com bastante preocupação para esta situação”, revela Mbaxi.

Já o Gabinete Provincial da Educação do Bengo, por meio do seu chefe de Departamento para Inspeção, Zacarias Pedroto, avança que o professor tem um conjunto de tarefas a realizar dentro e fora da escola como a planificação, organização dos materiais, o ministrar de aulas, entre outras.

Pedroto acredita que o professor não terá tempo de completar todas as suas tarefas se duplicar o expediente como taxista. “Não tem tempo. Para todos os efeitos, não tendo tempo, deixa de ser professor e passa a ser ‘tropessor’. Porque, diante das componentes não letivas que é o que ele deturpa visando fazer atividade de táxi, deixa de ser professor”.

 

Texto do DW África 

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