O antigo primeiro-ministro angolano e figura de grande estima no país, Marcolino Moco, diz ter visto muita gente a tentar comparar as eleições que tiveram lugar, no domingo, 30 de janeiro, em Portugal, com as que vão ter lugar, este ano, em Angola, sem tocar no nó górdio da questão.
De acordo com Moco, as eleições portuguesas decorreram num clima de animada reflexão nacional e final festa da democracia, enquanto as de Angola – problema africano que pensava ser resolvido, em Angola, depois de tão longa guerra civil – uma caixa de pandora que vai deslindando os pavores dos seus fantasmas, à medida que se aproxima o “dia fatal”.
Para Marcolino Moco, a resposta foi dada, pelo primeiro-ministro reeleito, em Portugal, segundo a qual “uma maioria absoluta não significa poder absoluto”, acrescentando Moco que, em muitas áfricas e em Angola, em particular, não se entende assim.
Considerou na ocasião que, os partidos que alcançam o poder, por algum meio, guerras ou eleições, esforçam-se por garantir, por qualquer meio, maiorias formais ou materiais qualificadas, subtraídas a qualquer valor ético e moral políticos.
“Como não ficar, assim aberto, um ‘círculo vicioso’ de eleições tensas, imprevisíveis e inúteis para a estabilização dos nossos países e melhores serviços às suas populações?”, questionou.
No caso de Angola, entende que não é possível não haver uma tensão aterradora, pois, desde logo, o Presidente (candidato) da República, com todo o poder absoluto que tem exibido, conferido ou não pela Constituição “atípica”, não pode ser “julgado”, pelos seus acertos e desacertos, à margem do seu populoso partido.
Para o antigo primeiro-ministro, trata-se de uma “maravilhosa” armadilha para reforçar o confuso partido-estado que continua, por outras vias, e cada vez mais avassalador, no controlo da comunicação social e na banalização descarada do poder judicial.
“Coitado deste país que, com todos os mecanismos de “checks and balances” assassinados, não tem um chefe de estado que não seja um irredutível chefe da sua facção política, para se dedicar por dois minutos que sejam, na função de fiel da balança, nas tensões que o país vai vivendo! Sou criticado por alguns, por só apontar os problemas do partido que governa”, lamentou.
Moco diz-se assim, mal criticado, porque caberá, um dia, a quem governa tomar a grande iniciativa para Angola sair desta gaiola que vai afundando todos os dias e cada vez mais, o país. “Agora poderá aparecer mais comida e muitas alegrias falsas, para atrair votos”.
Mas com este sistema, apelou, tudo voltará para os mesmos pântanos iniciais, os de um estado de exclusão permanente, com as mesmas permanentes tensões.
“Se não é o partido no poder que toma a iniciativa, ou mais concretamente, se não é poderoso Presidente da República que o faz, já que todos o temem lá no Kremelim, serão os partidos da oposição, com alguns dos seus líderes hostilizados “até a exaustão” que o farão?”, atirou.