Na província angolana do Huambo, três jornalistas da rádio Ecclésia foram chamados à polícia para depor sobre uma reportagem em que denunciaram o alegado envolvimento de um comandante da corporação no tráfico de armas.
O diretor da rádio Ecclésia – Emissora Católica de Angola, no Huambo, e outros dois jornalistas foram ouvidos no gabinete de investigação de ilícitos penais da Polícia Nacional, no final de janeiro, por causa de uma reportagem em que denunciaram o alegado envolvimento de um comandante da corporação no tráfico de armas de fogo e de munições.
As autoridades querem saber qual a fonte ouvida pelos jornalistas, mas os profissionais recusam-se a revelar. A rádio está agora a braços com um processo criminal, segundo o padre Alberto Java, diretor da estação.
“Nós só cumprimos com o nosso dever de dizer a verdade, e a fonte pediu anonimato”, explica. “Não falta um espírito de intimidação por parte da polícia, não se duvida que o que eles queriam é tentar intimidar, porque não é o primeiro caso que acontece sobre este comandante”, lamenta o diretor.
Alberto Java acrescenta que a rádio fez o seu papel de tentar ouvir o contraditório. Segundo o padre, foi dada oportunidade à Polícia Nacional de se pronunciar sobre o assunto, mas a corporação preferiu manter-se em silêncio.
“Tanto é assim que demos também o áudio [da denúncia] para eles ouvirem, eles ouviram mas não quiseram dizer nada e nós tínhamos que informar. Avisámos a polícia ‘vai passar no programa X’, e acredito que eles ouvira”, afirma.
Tentativa de silenciamento
Para Memória Ekolica, responsável da ONG Horizonte Media de Angola, a postura da polícia é uma tentativa de silenciar a rádio Ecclésia e os jornalistas independentes. “Para nós, está claro que existe uma única intenção intimidatória de calar a rádio”, frisa.
O sociólogo entende que a polícia está a ir atrás das pessoas erradas, ao imputar responsabilidades criminais aos jornalistas, quando deveria investigar a denúncia feita pela estação.
“Se não houvesse cobardia da parte dos senhores que moveram a ação, pensamos que deveriam ir atrás do sujeito evocado e buscar provas. Estão a desviar de novo o caminho do crime, estão a tentar intimar os trabalhadores para, no lugar de inocentes, colocar os criminosos. Os criminosos são sempre os que evitam a justiça em Angola”, conclui.
A DW África contactou a Polícia Nacional no Huambo mas não conseguiu obter um posicionamento sobre o assunto. Fonte da corporação adiantou que o processo está em segredo de justiça.