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Angola: Setor bancário desembolsou nos últimos dois anos “mil milhões de euros” ao setor real da economia

O setor bancário angolano desembolsou, entre abril de 2020 e fevereiro deste ano, 542,4 mil milhões de kwanzas (mil milhões de euros), para o financiamento de 432 projetos, anunciou hoje o vice-governador do Banco Nacional de Angola (BNA).

Rui Mingues falava hoje na abertura de uma conferência sobre o “Financiamento ao Setor Real da Economia”, no âmbito do instrutivo do banco central angolano, denominado Aviso 10/2020, de 03 de abril de 2020 sobre o Crédito ao Setor Real da Economia.

Segundo Rui Mingues, o valor desembolsado até à presente data representa 305% do limite mínimo definido pelo instrutivo e 98,18% do limite mínimo estabelecido para os projetos.

“Evidentemente, os desenvolvimentos para a disponibilização de uma central de registo de garantias mobiliárias concorre para incrementar e potenciar os níveis de concessão de crédito, pelo que os ajustamentos efetuados para conferir, em termos qualitativos e quantitativos, maior robustez à central de informação de riscos de crédito (…) se tornou bastante oportuna e assume elevada importância”, referiu o vice-governador do BNA.

O vice-governador do banco central angolano admitiu que “o caminho a trilhar ainda é longo”, contudo continuam os esforços para facilitar o acesso ao crédito, apoiar as atividades económicas emergentes, criar condições para o aumento de serviços financeiros à população, de modo seguro e eficiente, bem como simplificar o licenciamento dos negócios e procedimentos de abertura de empresas, aproximando os beneficiários das políticas que estimulem investimento.

Na sua apresentação, o diretor do Gabinete de Acompanhamento de Crédito do BNA, Veloso Pedro, frisou que o crédito desembolsado até ao momento corresponde a um peso de 48% no global do setor real da economia angolana.

“Vale dizer que de facto o Aviso 10 contribuiu bastante para o processo de diversificação da economia, para a redução de importações, indiretamente contribuindo para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos”, referiu.

A nível do crédito total concedido pelo setor bancário verificou-se igualmente que o instrutivo “contribuiu sobremaneira para o aumento do crédito à economia, com cerca de 12%”, correspondente a 4,7 mil milhões de kwanzas (9,1 milhões de euros), frisou Veloso Pedro.

De acordo com o responsável, a província de Luanda, capital de Angola, lidera a lista dos projetos financiados (173), seguindo-se Benguela (46), Bengo (10%), Cuanza Sul (39), Huíla (34) e Huambo (30), sendo as províncias da Lunda Norte e Moxico, as únicas sem o registo de crédito no âmbito do Aviso 10.

Nesse período, os financiamentos permitiram a criação de mais de 36.000 postos de trabalho.

Os projetos mais atendidos foram os destinados à produção de cana-de-açúcar e seus derivados (17,65%), as bebidas, incluindo os sumos (17,16%), avicultura, capricultura, suinocultura e seus derivados (11%).

“Relativamente aos setores de atividade económica, os setores que mais beneficiaram de crédito desde a publicação do aviso até fevereiro do ano em curso, destacamos a indústria alimentar, com cerca de 36%, a agricultura, produção animal, caça e atividades de serviços relacionados, bem como a indústria das bebidas”, sublinhou.

Pedro Veloso realçou que o aviso prevê a canalização de 2,5% do ativo líquido dos bancos comerciais e o cumprimento de um número mínimo de projetos e nesse sentido, “houve um desempenho bastante positivo”.

“Se quisermos ter uma noção do valor previsto para desembolsar, cerca de 200 mil milhões de kwanzas (391,4 milhões de euros), a banca disponibilizou quatro vezes mais daquilo que era previsto e em termos de número de projetos a banca desembolsou mais de 98% dos projetos”, indicou.

O responsável disse o que o banco central realizou um inquérito onde percebeu alguns constrangimentos registados pela banca comercial, quer na concessão de crédito, quer no âmbito do desembolso e do reembolso.

“Gostaríamos de destacar na fase da receção dos processos um dos grandes constrangimentos tem essencialmente a ver com a estrutura organizacional das empresas, a não apresentação de contas e também a fraca preparação dos promotores de crédito”, salientou.

Entre as dificuldades, constam igualmente a inexistência de capitais próprios dos promotores, estudos de viabilidade ou planos financeiros muito mal estruturados e elaborados e a falta de informação do ponto de vista histórico sobre a atividade do investidor.

Na fase da aprovação, a dificuldade da obtenção de garantias foi outro dos problemas citados pela banca comercial, que se queixou ainda de constrangimentos constatados na fase de implementação, nomeadamente a variação cambial, dificuldades na obtenção de vistos para mão-de-obra estrangeira e a burocracia no processo de importação.

 

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