O jornalista Oliver Bullough defendeu hoje que as sanções do Reino Unido contra oligarcas russos devem ser o início de um processo para o país deixar de “receber, lavar e proteger dinheiro roubado” de países como Angola.
Numa apresentação hoje em Londres do livro “Butler to the World” [Mordomo do Mundo], Bullough disse que “a resposta do Governo britânico ao que está acontecer [na Ucrânia] mostra o caráter do Reino Unido e papel como destinatário, branqueador e protetor de dinheiro roubado”.
“O Reino Unido não é mordomo dos russos, é mordomo do mundo. Ainda existem oligarcas do Cazaquistão, do Azerbaijão, da Ucrânia, de Angola, da Nigéria, do Egito, dos estados do Golfo, da Malásia, da China e por aí diante. Estão aqui totalmente sem serem incomodados”, afirmou.
Bullough saudou as recentes sanções aos multimilionários com ligações a Putin e a ajuda militar britânica à Ucrânia, mas lamenta que, simultaneamente, governos sucessivos tenham deixado entrar investimentos e ativos financeiros sem questionar a fonte.
Segundo o autor de “Moneyland”, é necessária “uma mudança cultural completa em termos de dar à polícia os recursos e o apoio político que ela precisa para fazer o trabalho que estamos a pedir”.
No livro “Butler to the World”, publicado este mês, expõe lacunas que permitem a magnatas, cleptocratas, criminosos e outras pessoas esconder a riqueza ou fugirem aos impostos.
Além dos paraísos fiscais em protetorados britânicos, como as Ilhas Virgens, Ilhas Caimão ou Gibraltar, que permitem o uso de sociedades anónimas para esconder a propriedade de ativos, o jornalista denuncia outros mecanismos semelhantes, nomeadamente na Escócia.
No livro, conta como um grupo de criminosos roubou 1.000 milhões de dólares (912 milhões de euros) de três bancos da Moldova em 2014 e usou uma empresa veículo [“limited partnership”] na Escócia para movimentar o dinheiro, beneficiando do anonimato e reputação de estar no universo financeiro britânico.
Bullough revela também como Gibraltar “revolucionou totalmente a indústria global de apostas” ao providenciar uma base para as lucrativas empresas de jogos de azar na Internet, contornando as regulamentações existentes para este tipo de atividade nos países europeus.
“É diferente de Las Vegas ou Macau porque as apostas não acontecem em Gibraltar, acontece tudo noutros países. (…) Os problemas causados pelas apostas estão no Reino Unido ou em outros países, e os lucros ficam em Gibraltar”, vincou.