O bispo angolano António Ferraz, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), absolvido hoje dos crimes de que estava acusado disse que foi feita justiça, e pede que os templos sejam restituídos o mais breve possível aos fiéis.
António Ferraz, presidente do conselho de administração da IURD, foi absolvido em tribunal dos crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais, burla por defraudação, expatriamento ilícito de capitais e de violência doméstica do tipo psicológica e física, num julgamento iniciado em 18 de novembro de 2021.
“Foi feita justiça, já esperávamos essa decisão, porque somos pessoas honradas, sou um homem honrado e que tem um compromisso para ganhar almas, nunca enganar ninguém, nem aproveitar de ninguém”, afirmou António Ferraz, em declarações à imprensa no final da audiência.
Segundo o bispo angolano, para que a justiça e a legalidade da igreja sejam repostas, deve ser feita a devolução dos templos, “porque o conflito se deu justamente por conta de haver supostos crimes, que foram jurados e provados que não foram cometidos”.
“Assim sendo, pedimos a devolução dos templos, porque são dois anos [em] que os nossos membros têm sido prejudicados pelo facto desse tribunal ter encerrado os templos, porque a igreja é do povo, foram eles que contribuíram para que essas igrejas fossem construídas e, nesse caso, os nossos direitos de cultuar estão a ser violados”, frisou.
O conflito na IURD, igreja criada no Brasil por Edir Macedo, remonta a 2019, quando um grupo de bispos e pastores angolanos decidiu afastar-se da igreja, acusando a parte brasileira de vários crimes, que resultaram na tomada à força de vários templos em todo o país.
Questionado se está aberto ao diálogo com a parte dissidente, António Ferraz disse que sim, desde que se conforme à “disciplina e regras que eles conhecem” da igreja.
“Quando alguém errou tem que reconhecer e se eles são homens de Deus, que eu creio, têm que reconhecer e procurar a autoridade da igreja para falar, porque foram eles que saíram da igreja, nós continuamos, se eles vierem a igreja está aberta para todos, mas tudo tem uma regra e se eles, humildemente, procurarem a direção da igreja, nós vamos recebê-los com muito prazer”, salientou.
Por sua vez, o atual líder espiritual da IURD em Angola, bispo Alberto Segunda, em declarações à Lusa, manifestou satisfação pelo desfecho do processo, em que foram coarguidos o bispo brasileiro Honorilton Gonçalves, à altura dos factos responsável da igreja em Angola, o pastor brasileiro Fernando Teixeira e o pastor angolano Belo Kifua, os dois últimos absolvidos de todos os crimes.
“Sim foi feita [justiça], como havíamos falado desde o princípio, se há crime teriam que provar (…), graças a Deus o tribunal assim entendeu que não havia provas para que os réus fossem condenados”, disse.
Sobre os outros processos em tribunal, Alberto Segunda sublinhou que a igreja está confiante que terão o mesmo fim do julgamento que hoje terminou.
Dos quatro arguidos, “o tribunal condenou apenas Honorilton Gonçalves, que não se encontra em Angola desde dezembro do ano passado, depois de ter sido levantada pelo tribunal a restrição de saída do país, na pena de três anos de prisão, com pena suspensa por dois anos, pelo crime de violência doméstica do tipo psicológica e física, a dois ofendidos, aos quais vai pagar de forma solidária indemnizações de 30 e 15 milhões de kwanzas (60 mil e 30 mil euros), e uma taxa de justiça de 1,5 milhões de kwanzas (2.961 euros)”.
Em declarações à lusa, o advogado do ofendido Alfredo Faustino Ngola, submetido a uma vasectomia, que deverá ser indemnizado com o valor de 30 milhões de kwanzas, considerou que o tribunal atendeu ao pedido do seu constituinte.
“O tribunal atendeu ao nosso pedido, julgou e condenou o líder máximo da igreja e solidariamente ele deve fazer o pagamento deste valor. Obviamente que este valor não poderá, em certa medida, reparar todos os danos, mas poderá dar condições ao nosso assistente de voltar à África do Sul, para fazer uma reversão, tratar-se condignamente”, realçou.
A sentença foi comemorada efusivamente por membros e fiéis da igreja, que aguardavam fora da sala de julgamento pelo fim da sessão, que se iniciou com mais de cinco horas de atraso e durou três horas para a leitura do acórdão.