Só no último dia houve mais angolanos a fazerem o registo eleitoral. Antes, houve pouca afluência. Alguns dizem que não foram bem informados, outros não mostraram interesse por as eleições serem uma “figura decorativa”.
O registo eleitoral oficioso chegou ao fim, depois de 6 meses e 14 dias. O prazo para o registo tinha sido prolongado por mais sete dias, mas, de acordo com os responsáveis dos Balcões Únicos de Atendimento ao Público (BUAPs), continuou a haver pouca afluência, exceto no último dia do registo, que foi marcado por várias enchentes.
Mesmo assim, Miguel Dembo, de 20 anos, diz que só soube na quinta-feira (07.04) que estava a decorrer o processo de recenseamento de cidadãos com capacidade eleitoral.
“Eu não sabia que já começou no ano passado, só me apercebi agora, quando me falaram que o registo vai terminar no dia de hoje. Por isso é que vim fazer o registo”, afirma o eleitor.
Críticas ao registo eleitoral
A oposição teme que milhares de pessoas tenham ficado de fora. Ao longo do processo, criticaram as longas distâncias que os cidadãos tinham de percorrer para ir até aos BUAPs e denunciaram a morosidade no atendimento.
É também esse motivo que leva o cidadão Moisés Canda a pedir um novo alargamento do prazo: “Se for possível, seria bom aumentar, porque tem muita gente que está fora das localidades”, apelou.
Contudo, o Ministério da Administração do Território recusa prorrogar o processo.
Segundo Fernando Paixão, diretor nacional do Registo Eleitoral Oficioso, apesar de algumas dificuldades pontuais, o recenseamento, que pela primeira vez contemplou cidadãos que vivem na diáspora, foi positivo.
Para já, não avança números. “Temos [dados] a chegarem à base para serem devidamente tratados, falar de números é prematuro.”
Indiferença da população
Cristina Arsénio, de 20 anos, diz que não se registou, porque não quis. “Votar não é obrigatório. Eu é que sei se voto ou não”, disse em declarações à DW África.
Os familiares de Arminda Francisco também não se registaram por falta de interesse. “A minha irmã não atualizou, o cartão dela, nem a minha mãe”, conta a jovem de 21 anos.
O politólogo Joaquim Ernesto acredita que há muita gente em situação idêntica. Segundo Ernesto, muitos cidadãos não acreditam que o seu voto tenha peso e também não acreditam nos políticos. Por isso, não se foram registar.
“Os cidadãos já não querem aceitar as eleições, porque perceberam que são uma mera figura decorativa para se buscar supostamente uma forma de boa governação. Mas não é com eleições que se vai mudar o país se não houver uma mudança de mentalidade dos políticos”, comenta Joaquim Ernesto.
Pelo contrário, Maria Ricardo, diretora do Registo Eleitoral no Cuanza Norte, desafia os cidadãos a participarem nas eleições gerais de agosto: “Exigindo direitos, deves também ter deveres, e votar é um dever cívico”.