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“Sem colaboração estrangeira teria sido impossível pilhagem de Angola” – Rafael Marques

Rafael Marques responsabilizou hoje “cúmplices” estrangeiros pela pilhagem em Angola, criticando autoridades judiciais por se preocuparem em perseguir angolanos. Ativista cita Banco Espírito Santo Angola (BESA).

O ativista angolano Rafael Marques responsabilizou hoje os “cúmplices” estrangeiros pela pilhagem em Angola, criticando as autoridades judiciais por só se preocuparem em perseguir angolanos, dando como exemplo o caso do Banco Espírito Santo Angola (BESA).

“As autoridades judiciais angolanas só se têm preocupado em perseguir angolanos, deixando de fora todos os estrangeiros, corruptores, corruptos, facilitadores, intermediários, etc., que foram e são autores ou cúmplices da corrupção”, disse.

O jornalista e fundador do Ufolo – Centro de Estudos para a Boa Governação, falava hoje (13.04), em São Tomé e Príncipe, onde decorre um intercâmbio internacional sobre a governação e luta contra a corrupção.

“Temos de ser cristalinos: sem a colaboração estrangeira – das chamadas sociedades mais avançadas – não teria sido possível a pilhagem desenfreada em Angola”, acusou.

“Captura da classe dirigente”

Rafael Marques apontou Sam Pa, ex-patrão do China International Fund (CIF), e o brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, ambos detentores de dupla cidadania angolana, como dois dos empresários estrangeiros que “funcionaram como verdadeiros polvos na captura da classe dirigente para o saque do país”.

O ativista questionou a falta de empenho da justiça em rastrear as centenas de milhões de dólares e o vasto património adquirido em vários países pelo conglomerado China Sonangol, uma joint venture entre o CIF e a Sonangol com fundos do Estado angolano.

O brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, por seu lado, tinha negócios transversais com uma longa lista dos principais membros da anterior nomenclatura, muitos dos quais estão a contas com a justiça, indicou.

Marques elencou outros casos, entre os quais o Banco Espírito Santo Angola (BESA), que ficaram de fora da alçada da justiça angolana.

“Em Portugal, é um caso submarino: permanece escondido debaixo do mar durante anos, e de vez em quando emerge. Não se entende bem por que motivo uma investigação iniciada em 2009, com sete acórdãos do Tribunal da Relação, envolvendo 14 juízes de tribunais superiores, ainda não tem uma solução em 2022”, questionou.

“Nem sequer existe menção de processo”

O jornalista lembrou que foi ouvido em Lisboa há 12 anos, inicialmente como suspeito, por ter denunciado os esquemas de corrupção do BES Portugal em Angola, “quando este banco era intocável” e salientou que “em Angola, nem sequer existe menção de um processo”.

“A existir, estará sempre submerso”, acrescentou, lamentando que a rede da justiça não seja lançada para todos.

“Não se pode entregar as investigações de casos fundamentais para Angola, ocorridos em território nacional, apenas a Portugal e para benefício exclusivo deste país. A soberania judicial tem de ser efetivada nos dois sentidos, e não apenas na via da antiga metrópole”, reforçou o diretor do site Maka Angola.

Rafael Marques abordou ainda o caso da Unitel, ligada à PT/Oi e da Biocom ligada à brasileira Odebrecht, em que a “entidade estrangeira é simplesmente ignorada”, apesar de haver provas de envolvimento em atos de corrupção.

“O combate efetivo à corrupção só terá sucesso quando abranger todos, nomeadamente os estrangeiros que funcionam como catalisadores e absorventes das fortunas desviadas”, frisou Rafael Marques.

 

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