Templos da IURD Angola voltam a ser encerrados e serão entregues à direção “legitimada pelo Governo angolano”, diz fonte oficial. IURD Angola reage e pede às autoridades que acabem com perseguições.
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) apelou neste domingo (17.04) às autoridades angolanas para que respeitem as decisões judiciais e acabem com as “perseguições”, sublinhando que não cabe ao Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) fazer entrega de templos.
A posição da IURD Angola (ala brasileira, dirigida pelo bispo Alberto Seguda) surge depois de o diretor adjunto do INAR ter revelado, ontem, que os templos reabertos esta semana voltaram a ser encerrados e vão ser entregues à direção da igreja legitimada pelo Estado angolano.
Na passada terça-feira (12.04), a IURD Angola anunciou a reabertura dos seus templos, dois anos depois, referindo que a mesma resultava de uma decisão do Tribunal da Comarca de Luanda. Num comunicado, a IURD referia que o colégio de juízes da 4.ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal da Comarca de Luanda determinou o “desbloqueio dos bens móveis e imóveis da IURD em Angola”.
Ontem (16.04), em declarações à estação pública TPA, Ambrósio Micolo, diretor-geral adjunto do Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), entidade que é também fiel depositária dos templos que estavam apreendidos por ordem da Procuradoria-Geral da República (PGR), confirmou que o tribunal decidiu devolver o património que estava sob arresto à igreja.
“Mas é preciso notificar o INAR”
Porém, segundo o diretor, “é preciso que o tribunal notifique o INAR para que este seja autorizado a fazer a entrega e possa autorizar a reabertura dos templos”, disse, acrescentando que “os selos estavam colocados”, pelo que “os fiéis da Igreja Universal violaram o pressuposto legal”. “Isto é uma violação muito grave. (…) O que vai acontecer é a que a PGR voltou a colocar os selos e aguarda a notificação do tribunal”, afirmou.
Ambrósio Micolo salientou que neste momento “já não existem alas, existe uma direção da Igreja Universal”, e é “esta direção legitimada pelo Estado angolano que vai rececionar os templos que vão ser entregues pelo INAR, esta é que tem legitimidade para reabrir e exercer as suas atividades”.
O mesmo responsável adiantou que mal o tribunal notifique o INAR este fará a devida comunicação à PGR para se proceder à entrega dos templos, sublinhando que “vai ser reposta a legalidade”.
A direção da IURD reconhecida pelo INAR é encabeçada pelo bispo Valente Bizerra Luís, que coordenava a comissão de reforma que entrou em conflito com a liderança brasileira da IURD em 2019.
Ambas as alas, a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís, reclamam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.
“Reabertura é ilegal”
Valente Bizerra Luís condenou a reabertura dos templos da IURD por dirigentes da ala brasileira, considerando que “é ilegal”, pois essa direção não é reconhecida.
Para os dissidentes, a reabertura dos templos do Maculusso e Alvalade (os principais locais de culto em Luanda) viola a decisão da PGR, pois só o INAR tem legitimidade para decidir
Bizerra Luís declarou à TPA que a ala que lidera foi reconhecida como a legitima representante da IURD pelo ex-ministro Jomo Fortunato [entretanto substituído por Filipe Zau].
“No ano passado, o ex-ministro da Cultura deixou bem claro de quem era a liderança legítima da igreja. O que estão a ver são cidadãos, estrangeiros, que não respeitam o Estado angolano”, sublinhou.
“Se um simples cidadão vai até esse templo, tira os selos, e faz uso desse imóvel, é uma invasão, essa direção já não é uma direção legítima”, reforçou Bizerra Luís.
A Lusa tentou ouvir o bispo Alberto Segunda, sem sucesso até ao momento.
A IURD em Angola enfrenta disputas internas desde 2019, quando bispos e pastores angolanos acusaram os gestores brasileiros de vários crimes, nomeadamente branqueamento de capitais, evasão de divisas, obrigação de vasectomia, bem como racismo.
Acusações
Os brasileiros acusam os bispos e pastores angolanos, que se afastaram da igreja, de atos de xenofobia e agressões, na sequência da tomada à força de templos, em todo o país.
A justiça angolana abriu um processo, encerrou os templos e convidou missionários brasileiros a deixarem o território angolano.
No âmbito do julgamento, “o tribunal de Luanda condenou em 31 de março o ex-responsável da IURD em Angola a três anos de prisão, de pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica, enquanto os restantes arguidos foram absolvidos”.
O ex-líder Honorilton Gonçalves, atualmente no Brasil, e outros três coarguidos – o bispo angolano António Ferraz, o pastor brasileiro Fernandes Teixeira e o pastor angolano Belo Kifua – eram acusados de vários crimes, incluindo associação criminosa, branqueamento de capitais e violência doméstica, num julgamento que teve início em 18 de novembro de 2021.
Os arguidos foram absolvidos dos restantes crimes: associação criminosa, branqueamento de capitais, burla por defraudação e expatriação ilícita de capitais, um crime que o tribunal deixou cair por se tratar de uma transgressão que compete ao Banco Nacional de Angola.