A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) pediu hoje a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para “mediar o conflito” que persiste, sobretudo em relação aos mais de 100 templos, e uma “atenção especial” aos milhares de fiéis.
A solicitação da mediação do Presidente angolano foi apresentada hoje em conferência de imprensa pelo bispo Alberto Segunda (ala brasileira), recordando que a restituição dos templos da IURD tem respaldo num acórdão de 31 de março passado, proferido pelo Tribunal da Comarca de Luanda (TCL).
O bispo da IURD, cujos templos foram reabertos na quarta-feira passada, dois anos depois de encerrados, pediu ao Presidente angolano que “olhe para a aflição do povo da Igreja Universal”.
“Povo esse que durante dois anos estava impedido de cultuar e povo esse que entende que uma das pessoas, se não a única, que pode ajudar na mediação desse conflito é a sua excelência Presidente Manuel Gonçalves Lourenço”, afirmou.
“Gostaríamos que desse uma atenção especial aos mais de 500 mil fiéis que a igreja comporta em todo o território nacional, esse povo clama que justiça seja feita e o senhor (Presidente) bem colocou quando disse que deixa justiça fazer o seu trabalho”, salientou o bispo da IURD.
A IURD em Angola reabriu os seus mais de 100 templos, espalhados nas 18 províncias angolanas, na quarta-feira passada, na sequência de uma sentença do TCL que absolveu os seus pastores e “determinou a restituição imediata dos templos”.
Segundo Alberto Segunda, a reabertura dos templos da IURD foi seguida de alegadas “ameaças e intimidações” por parte de responsáveis do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) angolano e de agentes da polícia contra os seus fiéis.
Na sua intervenção, o bispo recordou que os pastores da IURD foram absolvidos dos crimes que vinham sendo acusados e o acórdão de 31 de março “determinou o levantamento das apreensões dos templos e a restituição aos seus possuidores”.
Neste momento, observou, “devem as autoridades públicas, policiais e o INAR respeitarem a decisão judicial, que restituiu os templos que é uma decisão soberana, sob pena de estarmos diante de ilegalidade que põem em causa do Estado do direito e democrático”.
A direção da IURD reconhecida pelo INAR é encabeçada pelo bispo Valente Bizerra Luís, que coordenava a comissão de reforma que entrou em conflito com a liderança brasileira da IURD em 2019.
Ambas as alas – a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís – reclamam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.
Para Alberto Segunda, a ala que dirige tem uma “visão muito diferente” da outra parte, porque, realçou, “percebe-se claramente que os nossos irmãos estão mais interessados no património do que noutra coisa”.
“Repito que o nosso interesse aqui não é a questão de divisão de património, porque nós ainda que tivéssemos que começar do zero, nós começaríamos, o que está a ser discutido aqui é a questão de justiça, nós estamos a ser injustiçados, não é questão de património”, respondeu à Lusa.
O bispo angolano da IURD diz estar a “lutar por uma causa justa”, mas, assinalou, “se o Estado (angolano) decidir que fiquemos sem o património, mas que não nos retirem a marca, que pertence a um homem chamado bispo Edir Macedo”.
“O que está em jogo aqui não é o património, mas sim uma questão de justiça, o que tem que ser colocado em pauta é como esses indivíduos tomaram os templos de forma violenta, com esbulho e ninguém fala nada”, atirou.
“É fácil falar em divisão do património, é fácil falar em reconciliação, tudo isso é fácil, vamos no mérito da questão, vamos em como começou essa temática, as pessoas pensam, têm cérebro e não podem aceitar serem manipuladas”, defendeu.
A Igreja Universal “são mais de 500 mil fiéis e eles é que são os donos desse património, eles não vão aceitar abrir mão daquilo que é deles, eu sou simplesmente um missionário, hoje estou aqui e amanhã vou para um outro país e os fiéis?”, questionou.
Por seu lado, o advogado da ala brasileira da IURD, Marcelo Mendes, disse, na ocasião, que mais de 30 ações cíveis, entre providências e ações principais sobre a IURD correm trâmites legais junto das secções do cível e administrativo das províncias de Angola.
“A nossa interpretação genuína que decorreu da leitura do acórdão do TCL é que a restituição não carecia da intervenção de terceiros e essa interpretação que nós retiramos”, vincou o advogado.
A IURD, reconhecida em Angola desde 1992, já teve um património de 307 templos, maioritariamente alugados e depois foram devolvidos aos proprietários na sequência dos conflitos, e conta atualmente com mais de 100 templos próprios em todo o território angolano.
Centenas de fiéis lotaram por completo a catedral da IURD no Maculusso, em Luanda, onde decorreu a conferência de imprensa, com cânticos, jejum e orações a marcarem os momentos iniciais do encontro à entrada da catedral.
“O nosso líder espiritual é o bispo Alberto Segunda”, “Devolvam as nossas igrejas, o Estado é laico” e “O caso IURD já foi resolvido no tribunal” eram alguns dizeres estampados nos cartazes à entrada da catedral.