O antigo primeiro-ministro angolano Marcolino Moco disse hoje que Angola precisa de um modelo de Estado “que reconheça a diversidade dos povos” e não que centralize o poder, criticando a “exclusão que persiste” no país desde a independência.
“O modelo de Estado que precisamos é aquele que reconheça a nossa diversidade, nós temos um Estado que parte do princípio que Angola é um só povo de Cabinda ao Cunene, uma palavra que já pronunciei muitas vezes na juventude, mas que hoje sei que está completamente errada”, afirmou hoje Marcolino Moco à Lusa.
Segundo o ex-governante angolano, Angola é constituída por vários povos, com diversidades específicas, mas o Estado angolano, frisou, tem funcionado como se essa realidade não existisse
“E por isso erra, centraliza, o poder é dado a uma só pessoa que é o Presidente da República”, disse, à margem da abertura do 1.º Congresso da Nação “Pensar Angola, por um Projeto Comum de Consenso”, que decorre em Luanda.
Para Marcolino Moco, um dos promotores do congresso que decorre até sábado, na capital angolana, o conclave constitui um ganho, sobretudo pelas personalidades que congrega para pensar Angola e buscar consensos.
“Este (encontro) é também um legado para os mais jovens, transmitimos aqui uma espécie de inconformismo para que não se satisfaçam com aquilo que tem estado a ocorrer no nosso país desde a independência, exclusão, exclusão e exclusão”, realçou.
No entender do antigo secretário-geral do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), a ideia de se buscar consensos para o país “é urgente, porque este pressuposto deveria ter acontecido em 1974 e 1975”.
“Não se devia ter permitido a saída de uma parte de angolanos, naquela altura chamados de colono, porque a maioria era branco, mas foi um grande, erro porque eram angolanos e eram massa pensante que hoje deveria estar aqui connosco e contribuir para a integração de muitos problemas”, notou.
Recordou a atual problemática do emprego, saneamento básico e a perda dos valores éticos e morais, considerando que “tudo isso ficou destruído por causa desta ideia que persiste até hoje da exclusão”.
“Eu, porque fui eleito, sou aquilo, mando e faço, e o congresso é um espaço não de obtenção de resultados imediatos, mas de início também de um trabalho de pedagogia e de relançamento para Angola”, apontou.
Além de Marcolino Moco, o empresário Francisco Viana, académicos e o músico Eduardo Paim são os outros promotores deste congresso, que se iniciou hoje, em Viana, um dos nove municípios de Luanda, e decorre até sábado.
Contribuir para um projeto comum em prol de uma Angola “mais inclusiva, solidária e democrática” para um melhor esclarecimento pré-eleitoral sobre as propostas das forças políticas concorrentes às eleições gerais e criar um ambiente de paz e concórdia são os objetivos do encontro.
Moco, que tem sido bastante crítico com a atual governação e o partido no poder, manifestou-se também “preocupado” com o atual ambiente pré-eleitoral, onde há “uma grande ânsia por alternância, mas quem detém o poder finge desconhecer” tal pretensão.
“Ora se se começasse por reconhecer a verdade, hoje o que seria o partido no poder? O que devia fazer é construir uma ponte para o futuro, de tal modo que continuando no poder ou não, não haja problema absolutamente nenhum”, defendeu.
“Temos de encarar esse problema de passagem do poder numa desportiva, mas devido essa diversidade, que não é encarada com naturalidade, dá-se a noção que vem um inimigo ao poder”, rematou Marcolino Moco.
Angola realiza as próximas eleições gerais, o quinto pleito na história política do país, na segunda quinzena de agosto deste ano.
Académicos, líderes religiosos, atores da sociedade civil e líderes religiosos também constam entre os convidados e oradores dos debates que vão abordar o atual estado da nação e o futuro e os modelos de Estado, económico, a macroeconomia e o ambiente de negócios em Angola.