Analistas acreditam que a morte do antigo Presidente José Eduardo dos Santos pode ter sequelas negativas para o partido governamental. Na província de Benguela, a morte do ex-líder angolano gerou reações mistas.
Maria do Carmo, ativista e membro do Movimento Revolucionário de Benguela, diz que quem mais perdeu com a morte do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foram a família e membros do bureau do partido governamental, MPLA.
“O sofrimento do povo piorou”
“É uma perda para a família e não para o povo angolano, porque nós não beneficiámos daquilo que foi a paz, daquilo que foi a governação de José Eduardo dos Santos”, disse.
Numa reflexão sobre os 48 anos de governação MPLA, do Carmo afirma que o partido “piorou o sofrimento do povo angolano”.
“[José Eduardo dos Santos] está a ser homenageado por aqueles que nem se quer lhe deram valor no período de vida”, disse.
O Governo angolano e a família do antigo estadista travam agora uma batalha para definir o local do funeral de José Eduardo dos Santos. Os filhos querem que o corpo permaneça em Espanha.
“Não seríamos um país sério”
Nem todos sentem a perda do antigo líder angolano a nível pessoal. Mas no contexto político e social, é a imagem do país que está em causa, argumenta Mireiny Tocoxima, que acredita que “será uma vergonha internacional para Angola”, caso o corpo do ex-Presidente não regresse para à sua terra natal.
“Politicamente será uma grande vergonha, mas é preciso entender a vontade dos filhos”, acrescenta. Esta moradora de Benguela salienta o lado político da cerimónia fúnebre.
“Pela imagem e de forma que queremos transmitir o nosso país como um Estado de direito e democrático, ficaremos muito mal na fotografia. Estaríamos a mostrar que não somos um país sério”.
Morte de José Eduardo dos Santos “mexe” com as eleições gerais
Profissionais da comunicação social defendem que as eleições gerais marcadas para 24 de agosto, podem ser influenciadas pela morte do ex-dirigente. O jornalista angolano Constantino Eduardo acredita que o MPLA poderá sofrer um impacto negativo.
“O Estado angolano deve tentar, dentro da diplomacia que existe, e a família dentro da sua sensibilidade, resolver o mais rapidamente possível este caso”. Para Eduardo, as graves acusações levantadas por familiares do ex-Presidente, que não consideram a sua morte natural, “poderão ter um impacto negativo para quem governa”.
O jornalista acredita ainda que as convicções da família acerca da morte do ex-Presidente angolano podem criar uma nuvem de suspeitas em torno do Governo.
“Se se começar a fomentar cada vez mais essa ideia, as pessoas vão passar a ouvir, afinal o que aconteceu é isso e aquilo?, disse”.
O jornalista João Marco entende que, desde a saída do pdoer de José Eduardo dos Santos, o país regrediu na liberdade de imprensa.
“Depois da saída do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, há quem diga que regredimos muito, se compararmos o cenário atual com o anterior. Portanto, a questão da liberdade de imprensa não se esgota”, afirmou.