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Eleições Gerais 2022 em Angola: “Quais as expetativas dos eleitores angolanos na diáspora”?

A DW África ouviu este sábado (06.08) membros da comunidade angolana no Concelho de Sintra, Portugal, durante uma iniciativa sociocultural de associações. Eleitores na diáspora têm expetativas moderadas.

O evento realizou-se em véspera do início da formação dos agentes eleitorais em Lisboa, numa altura em que decorre a campanha política partidária a antecipar as eleições gerais do dia 24 deste mês. Alguns dos angolanos ouvidos pela DW África defendem a alternância, mas lembram que é preciso saber “perder ou ganhar em nome da democracia em Angola”.

O futebol foi a modalidade dominante, logo pela manhã, no arranque do Encontro Sócio-cultural da Comunidade Angolana do Conselho de Sintra e arredores, que decorreu no Parque Desportivo de Monte Abraão. Na ausência de equipas femininas, o quadrangular do torneio de futebol de salão masculino foi disputado pelas equipas de Cacém, Queluz, Lisboa e Margem Sul, constituídas na sua maioria por jovens.

Para esta partida, todos contra todos, coube à Consul Geral de Angola, Vicência Ferreira Morais de Brito, dar o pontapé de saída e, uma hora depois, fazer a entrega dos troféus e medalhas às equipas participantes classificadas.

“Estrela da Lusofonia”

Do jogo final saiu vencedora a turma “Estrela da Lusofonia”, de Cacém, que, após derrotar os Afrotugas, de Queluz, recebeu a taça das mãos de Vicência de Brito, num ambiente de muito regozijo festejado em campo. Sob a arbitragem de Zeferino Boal, os jogos decorreram com normalidade. “Foi uma partida amigável e competitiva, espero ter contribuído para a festa”, revelou à DW depois da final.

Atislau David, capitão da equipa que conquistou o lugar de vice-campeão, encara a derrota com espírito desportivo. “Com certeza que gostaríamos de ganhar. Tentámos. Na próxima, quem sabe a gente ganhe”, disse à DW. Acima de tudo – apesar de alguma tensão registada ao longo do jogo –, David valoriza o espírito de confraternização desta iniciativa promovida por várias associações da comunidade em Portugal, independentemente de qualquer ligação partidária.

“A iniciativa é boa por juntar a população angolana aqui na diáspora, para se interagir mais, conviver e socializar-se, coisa que dificilmente acontece”, remata, reconhecendo, entretanto, que é preciso saber ganhar e perder. “Acima de tudo, saber aceitar o resultado, sem conflito e briga”, sublinha, sem ousar comparar esta disputa com as eleições gerais de 24 deste mês que, no entanto, diz ser “uma coisa mais séria”.

“Não apenas vencer”

Em declarações à DW, Vivência de Brito valoriza o incremento e o incentivo de mais iniciativas do género junto da comunidade “como factor de união saudável”, independentemente deste período de campanha eleitoral e de qualquer ligação partidária de cada um. “Nós consideramos que as atividades desportivas unem os angolanos e concorrem para que haja maior intercâmbio e solidariedade” […], indo “ao encontro dos nossos cidadãos”, afirma, “para ajudarmos na solução dos vários problemas que a comunidade angolana enfrenta em Portugal”.

Com um ligeiro problema na perna, a cônsul confessa que teve alguma dificuldade em fazer em direção à baliza o “remate de arranque” dos jogos. Mas também admite que, através de iniciativas desportivas como esta, fica a mensagem para estes jovens – futuros quadros e dirigentes de Angola – de que é preciso saber ganhar e perder. “Quero acreditar que, para estes jovens, o mais importante foi participar, estarem juntos, poderem interagir. E não importa muito quem ganha e quem perde”, reage a cônsul quando questionada pela DW. “É um estímulo, sim, poderem fazer o melhor no futuro pelo país”, conclui.

Continuidade ou mudança

Lisandra de Almeida, presidente do Fórum de Jovens Angolanos em Portugal (FJAP), assume que este é um evento congregador que tenta juntar as várias “ilhas” da comunidade na diáspora. Olha para as próximas eleições em Angola com esperança, mas lamenta o facto de muitos angolanos terem desperdiçado “a oportunidade de terem uma voz” no próximo ato eleitoral ao não se inscreverem durante o registo oficioso.

Considera que, infelizmente, o número dos inscritos não expressa a dimensão representativa de angolanos na diáspora. “Acredito que, por ser a primeira vez, as pessoas estejam um pouco acanhadas”, justifica. Mas, na sua perspetiva: “este é o primeiro passo para nós, angolanos, irmos nos habituando àquilo que vai ser a nossa vida de cinco em cinco anos”.

Atislau David é de opinião que a campanha decorre com normalidade e equilíbrio. “Já não é só o MPLA”, reconhece o jovem que confessa a sua simpatia pelo partido no poder, dirigido por João Lourenço. “Há outros partidos que podem fazer frente ao MPLA e vamos ver o que vão dar estas eleições”. A expetativa é saber se vai haver continuidade ou se haverá mudança na liderança do poder em Angola. “Qualquer que seja o resultado, a gente tem que tentar acatar”, reafirma o capitão dos Afrotugas.

Para este jovem angolano, depois dos mais de 40 anos de MPLA no poder, “seria ótimo a alternância”. Defende que se devia dar oportunidade a um outro partido alternativo ao MPLA, “porque todo o mundo espera pela mudança” e por uma Angola melhor, acredita.

“Não há democracia sem alternância”

Músico e escritor, António Agostinho de Carvalho Neto foi convidado a estar presente no evento sociocultural deste sábado. O também economista angolano pede aos partidos que, nesta campanha eleitoral, fundamentem os seus objetivos programáticos com justeza e honestidade, sem empolgar vitórias antes da ida às urnas, por orgulho. “Porque isso, geralmente, cria ódio”, avisa. “Vamos estimular as discussões, os fundamentos e as razões [das propostas]”, aconselha, referindo que é preciso esperar pela decisão dos angolanos depois da votação.

Considera que a alternância não é em si um objetivo. “A alternância é uma situação em que devemos ter sempre o povo na primeira linha”, argumenta.

Arlindo Nhabomba, estudante moçambicano em Ciências e Tecnologias de Informação no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL), diz que convive de perto com colegas angolanos. Esteve entre os que assistiram os jogos e disse à DW que o espírito deste encontro promovido pelas associações angolanas “é positivo” em antecipação às próximas eleições gerais em Angola. Acredita que, tal como aconteceu aqui em Sintra, o ato eleitoral terá lugar num ambiente de paz e tranquilidade, sem qualquer crispação política.

“Acho que até é um bom ensinamento para a sociedade angolana e é um contributo muito interessante”, adianta o jovem estudante defensor da inclusão que, olhando também para o caso moçambicano, lembra que não há democracia sem alternância. “A alternância seria uma oportunidade para os angolanos verem o outro lado. Por exemplo, o que é que um outro partido na oposição pode trazer [de novo]”, conclui.

Tem início esta segunda-feira (08.08), no Consulado Geral de Angola em Lisboa, a formação dos 45 candidatos selecionados para os postos de agentes eleitorais que vão compor as mesas de voto. A ação de formação realiza-se em dois grupos, entre esta segunda e sexta-feira desta semana, e será orientada por formadores da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) vindos de Luanda, segundo informou à DW Carlos Santos, vice-cônsul para as comunidades e ponto focal para a organização do processo eleitoral em Portugal.

 

 

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