Detenção de repórter que cobria marcha de protesto em Luanda acionou alerta: Sindicato teme que mais situações do género possam acontecer. A polícia angolana “não respeita” o trabalho dos jornalistas, diz sindicalista.
O Sindicato dos Jornalistas teme a detenção de mais membros da imprensa nestas eleições em Angola. Na quarta-feira (17.08), um repórter angolano foi detido por algumas horas enquanto cobria um protesto de organizações da sociedade civil contra o processo eleitoral, que acabou por ser impedido pela polícia.
O jornalista estava devidamente identificado e nada o impedia de estar a captar imagens no local. A polícia diz que foi um equívoco. Mas ficam dúvidas sobre o que esperar neste contexto pré-eleitoral, e sobretudo como os profissionais da imprensa estão a ser tratados.
A DW África falou com o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido.
DW África: Como avalia a situação para os jornalistas a poucos dias das eleições em Angola?
Teixeira Cândido (TC): Suspeitamos que possa haver uma atuação um pouco agressiva, porque há aqui um movimento de militantes de partidos, simpatizantes e outros membros da sociedade civil, que pretendem votar e ficar a 500 metros das assembleias de voto. Sendo assim, pela forma como estão a ser mobilizadas as forças da ordem, é natural que possa haver uma matéria ou outra que seja motivo de notícia, e infelizmente, quando a polícia detém manifestantes, os jornalistas também sofrem com esta situação.
O que aconteceu ontem com o jornalista Coque Mukuta foi exatamente isso. Ele foi cobrir uma marcha, que não se realizou sequer, mas foi uma das primeiras vítimas. Foi retido por três horas sem qualquer explicação plausível. Para o sindicato, isto não faz qualquer sentido, porque o jornalista estava devidamente identificado. A polícia não pode reter o cidadão para poder identificá-lo – tem que identificá-lo antes e depois tomar a decisão de retê-lo. Agora, não faz sentido que o retenha por três horas, que o identifique depois e diga que houve um equívoco.
DW África: O sindicato teme mais situações do género com o aproximar das eleições?
Teixeira Cândido (TC): O sindicato teme que situações de detenção ou de retenção de jornalistas possam ocorrer, porque sempre que há um movimento, sempre que há uma marcha, protestos ou qualquer matéria de interesse público que os jornalistas pretendam cobrir, tendencialmente eles também acabam por ser retidos ou detidos. O sindicato já abordou o comandante provincial de Luanda, já se estabeleceram princípios de atuação, quer da polícia, quer dos jornalistas, mas infelizmente não têm sido cumpridos.
DW África: De um modo geral, como os jornalistas estão a ser tratados em Angola neste contexto pré-eleitoral?
Teixeira Cândido (TC): A situação de ontem foi a primeira, e é verdade que tivemos também uma situação de um jornalista da Rádio Ecclésia que não terá sido bem tratado pelos seguranças que estavam a fazer protocolo num dos comícios do partido UNITA, mas fora estas duas situações em concreto, não temos relatos de profissionais que tenham sido molestados no exercício da profissão.
DW África: Mas os jornalistas estão em perigo ou enfrentam uma situação de ameaça?
Teixeira Cândido (TC): Não, na verdade não é que estejam em situação de ameaça Há situações recorrentes que se prendem com a retenção dos jornalistas, fundamentalmente em situações de grandes tensões, e não acreditamos que estas situações fiquem resolvidas. Ou seja, tememos que possam continuar a ocorrer sempre que houver situações desta natureza, porque parece-me que a polícia não está disponível para respeitar o trabalho dos jornalistas.
DW África: E como o sindicato está a auxiliar os jornalistas neste contexto pré-eleitoral?
Teixeira Cândido (TC): Estamos a trabalhar mais na base da pressão pública porque não temos outros instrumentos rápidos e urgentes que nos possam uma proteção e trabalharmos sem grandes constrangimentos.