O Instituto para a Cidadania de Angola (Mosaiko) criticou hoje o “fecho sistemático” dos espaços públicos de participação dos cidadãos e apontou a “contradição flagrante” entre a ação governativa do país e os acordos e convenções internacionais.
De acordo com o diretor geral do Mosaiko, frei Júlio Candeeiro, estes são alguns pontos que estarão em debate na sétima edição da Semana Social, espaço de reflexão e de debate para a mudança, agendado para os dias 19, 20 e 21 de julho, em Luanda.
Falando hoje, em conferência de imprensa de apresentação da “Semana Social 2023”, o frade dominicano referiu que será inevitável, no encontro, debater-se sobre a urgência da realização das autarquias locais.
Referiu também constatar o efeito devastador da militância cega sobre o desenvolvimento económico e social, temática que estará igualmente em análise neste encontro, que decorre sob o lema “Participação Local, Mudança Global”.
Para o Mosaiko, organização não-governamental, um dos pilares da democracia é a participação: “Não nos podemos limitar ao modelo de democracia representativa e à lógica de que quem está no poder sozinho toma decisões e manda”.
“Quando vivemos uma democracia sobre este prisma estamos a incorrer para a famosa ditadura da maioria. Somos defensores de uma democracia que combine o modelo representativo, mas sobretudo o modelo da dimensão participativa da democracia”, realçou Júlio Candeeiro.
Lamentou também a atual situação socioeconómica do país, considerando que hoje o “clamor da fome é uma realidade transversal” pelas sociedades e periferias do país e “não se restringe apenas ao sul de Angola”.
“Basta andarmos pelas ruas e vemos a quantidade de pessoas, famílias inteiras que vão buscar comida em contentores de lixo, a situação está preocupante”, respondeu aos jornalistas.
“Não temos soluções, mas defendemos uma maior abertura do espaço publico, alias é um direito constitucional, para que juntos avaliemos os modelos e práticas económicas implementadas até aqui”, defendeu.
Se em quase 50 anos de independência “não conseguimos cuidar do básico, se calhar podemos questionar-nos se os modelos económicos e a forma de organização do Estado que adotámos até agora estão a ajudar o país a crescer”, argumentou o sacerdote católico.