O Atual preço da tarifa de energia não é atrativo para os investidores privados, disse hoje o presidente da Associação Angolana de Energias Renováveis (ASAER), que defendeu igualmente alterações na regulamentação.
Vítor Fontes, que falava na 2.ª edição do Fórum Energia e Ambiente, organizado pelo semanário Expansão, salientou que apenas 25 megawatts (MW) da atual capacidade instalada de produção resultam de investimento privado, “o que deve fazer refletir”.
Segundo dados oficiais, Angola atingiu no ano passado uma capacidade instalada de produção de energia elétrica de 6.200 megawatts (MW), um crescimento de 60 por cento sobre os 2.400 MW que o país gerava em 2015.
O responsável da Asaer afirmou que foram dados passos para melhorar a regulamentação no sentido de obter uma maior participação dos privados, mas os resultados “não têm vindo a aparecer”, apontando a questão tarifária como o principal obstáculo.
“A tarifa é uma das baixas do mundo, se não a mais baixa e não cobre os custos operacionais, assim é muito difícil atrair privados para o setor”, sublinhou Vítor Fontes.
Por outro lado, “não se consegue lidar de forma clara e transparente com os interlocutores e é sempre necessário ouvir outros atores, em particular o Governo, para se ter um mínimo de garantias para o investimento”.
No que diz respeito à regulamentação, chamou a atenção para a necessidade de regular as mini-redes e sistemas solares domésticos, pois neste momento o grande problema de Angola, afirmou, não é a produção e sim a distribuição de energia.
São, por isso, necessárias soluções para colocar a produção mais próxima do consumidor final, afirmou presidente da Associação, lembrando que estão já identificados 232 locais que são propícios a utilização de mini-redes.
“Levar energia elétrica a todos os pontos da forma tradicional é muito oneroso, sendo essencial outras soluções como estas para aumentar a taxa de eletrificação”, defendeu Vitor Fontes.
Segundo o diretor nacional da energia elétrica, Diógenes Diogo, o executivo angolano espera passar da atual capacidade instalada de mais de seis gigawatts (GW) para o dobro em 2030, com o peso das energias limpas a aumentar dos atuais 66% para 72% em 2027.
André Afonso, ‘partner’ da consultora EY, adiantou que existe financiamento para o setor da energia e defendeu que deve ser incentivada a participação dos privados na matriz energética nacional.
“As energias renováveis têm sido, a nível mundial, um dos setores mais bem sucedidos na mobilização de fundos públicos”, salientou o especialista.
Para atrair esse investimento, considerou essencial que o Estado invista na mitigação de riscos para os investidores externos e privados, desenvolvendo um quadro legislativo favorável e acordos de implementação com empresas, exemplificou.
André Afonso elencou algumas vantagens da entrada de privados no setor da energia, como a alavancagem via financiamento estruturado, experiencia e inovação tecnológica, mas adiantou que os riscos dessa participação devem também ser avaliados, em especial no que diz respeito ao aumento dos preços.