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Instituto Nacional de Estatística (INE) diz que a “taxa de emprego” aumentou, mas angolanos não veem mudanças

A Taxa de desemprego em Angola no segundo trimestre deste ano foi de 32,3%, uma ligeira melhoria de 0,2 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), que divulgou a segunda edição do Inquérito ao Emprego em Angola.

O desemprego afeta mais as mulheres, com uma taxa de 34,2%, em comparação aos 30,2% entre os homen, e o relatório estima que cerca de 5,7 milhões de pessoas estejam desempregadas no país.

Mas, na prática, esses números não refletem a realidade dos angolanos, segundo os próprios.

Maria Pedro, mãe de três filhos e desempregada, desabafa que conseguir um emprego em Angola está cada vez mais complicado.

Para ela, o aumento do emprego anunciado pelo INE não reflete a realidade que enfrenta no dia-a-dia.

“Em Angola o emprego não está fácil. Para trabalhar você tem de comprar o próprio emprego. Você vai dar 40 mil kwanzas para entrar no emprego, que é para você poder trabalhar, para ganhar 50 mil kwanzas, 60 mil kwanzas por mês. E nem sempre vai depender da empresa na qual você vai trabalhar. Nem sempre no final do mês vão te pagar o táxi, nesses 250 mil o táxi tem de contar com alimentação, dinheiro do táxi, de tu ir trabalhar e voltar para casa. Então.”, afirma Pedro.

Outro cidadão, Eduardo Simão, que também está à procura de trabalho, diz que o verdadeiro problema está na falta de políticas públicas que resolvam o desemprego de uma vez por todas.

“Consoante a afirmação do Estado sobre o aumento de emprego em Angola, nós angolanos não vimos nenhum aumento de emprego porque a sociedade em si anda frustrada por falta de emprego. No último momento nós avistamos jovens formados, jovens que estão a terminar médios, a ficarem frustrados por falta de emprego, não tem onde isso atirar. Se aumentou o emprego, nós não mudamos a ver, porque em Angola o emprego se compra, pagas para poder entrar no emprego onde na qual você pode ganhar 50”, conta Simão.

Também Isabel Zua, igualmente desempregada, partilha a sua frustração com a situação, que classifica de “lastimável”.

“Eu não vi nenhum impacto e não vi nenhum desenvolvimento. Por quê? Porque eu não vi nenhum emprego. Não teve um impacto na minha vida porque os currículos estão em casa, os ratos estão a comer. Não há emprego e a sociedade está mal. A alimentação, nada. As coisas cada dia estão a subir mais. E a juventude não está a trabalhar. Por isso que a maioria dessa juventude agora está a se prostituir. Por quê? Porque não tem onde trabalhar, não tem onde tirar. A maioria dos jovens estão a trabalhar nas casas, não tem nenhuma empresa a dar trabalho, a disponibilizar trabalho”, narra Zua que descreve um cenário semelhante de outros entrevistados.

Já Joaquim Lutambi, um analista político que acompanha de perto a situação, descreve as estatísticas divulgadas como uma verdadeira “ilusão”.

“Isso não passa de um insulto aos cidadãos, não passa de uma afronta àquelas pessoas que estão nos contentores, àquelas pessoas que, por conta da incompetência, da ausência de políticas públicas no nosso país, ficaram desempregadas e, de certa forma, não têm como sustentar as suas famílias. Portanto, nós estamos habituados também a uma estatística ilusória, a uma estatística que apenas satisfaz a máquina, a cletocracia que governa o nosso país”, sustenta..

Manuel Cangundo, jurista, por sua vez, insiste que, para essas melhorias serem concretas, as autoridades precisam explicar como esses números impactam de fato a vida dos cidadãos comuns.

“O Instituto Nacional da Estatística vem passar sobre o aumento desses empregos, não é verdade? Porque eu não entendo como é que um país, que os empregos vão crescendo, na prática vai assistindo cada vez mais cidadãos a comerem no lixo, cada vez mais cidadãos a pedirem esmola. Hoje em dia tu vais ao supermercado e vês todo o supermercado praticamente inundado com pedintes, Tudo isso acontece à luz do dia. Então não sei como é que se compreende que vem-se dizer que os empregos estão a aumentar quando na verdade nós estamos assistindo a outras coisas, a factos que contrariam de facto esta informação”, questiona aquele também analista político.

Na contramão desses testemunhos, o relatório do INE diz que população empregada totalizou 12.108.854 pessoas, representando um crescimento de 2,9 por cento em relação ao trimestre anterior, o que equivale a 340.636 novos empregos criados, com uma média mensal de 113.545 novos ingressos no mercado de trabalho.

 

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