De inimigos da Guerra Fria a amigos improváveis, Estados Unidos e Angola mantêm há décadas uma relação que se desenha em torno de interesses mútuos, iniciada com o petróleo e seguindo agora sobre os carris do Corredor do Lobito.
A parceria atinge na próxima semana o seu ponto mais alto com a visita de Joe Biden ao país, entre 02 e 04 de dezembro – a primeira de um Presidente norte-americano a Angola -, com as atenções voltadas para o reforço e aprofundamento dos laços diplomáticos e económicos.
Durante décadas, o petróleo foi a pedra basilar das relações económicas entre Estados Unidos e Angola, que não se interromperam nem durante a guerra civil de quase 30 anos, iniciada logo após a independência de Angola, em 1975, em que os dois países se encontraram em lados opostos, com os norte-americanos a apoiar os rebeldes da UNITA contra o pró-soviético MPLA.
Embora os EUA tenham reconhecido Angola em 1993, sinalizando a vontade de evoluir para uma relação mais construtiva, o ponto de viragem só se iniciaria a partir de 2002 com o fim da guerra, quando Angola começou a preparar a reconstrução nacional com ajuda dos aliados internacionais (sobretudo chineses).
Com a chegada de João Lourenço ao poder, em 2017, Angola tem-se mostrado cada vez mais disponível para ser um parceiro estratégico do Ocidente em África, devido aos seus recursos naturais e localização privilegiada com acesso à costa Atlântica, e o executivo angolano, que pretende diversificar a economia e estar menos dependente do petróleo, procura aliados que o ajudem a concretizar essa ambição.
Agricultura, energias renováveis, tecnologias de informação e comunicação e infraestruturas são algumas das áreas que o Governo chefiado por João Lourenço quer desenvolver com a ajuda norte-americana, contando já com empresas como a Africell (Telecom) e a Sun Africa (energias renováveis), além dos financiamentos de milhões de dólares da International Development Finance Corporation (DFC) para o Corredor do Lobito.
Os EUA, por seu lado, olham para Angola como um aliado que os poderá apoiar em matéria de segurança e estabilidade regional, reconhecendo igualmente o potencial do corredor ferroviário que atravessa Angola até à República Democrática do Congo e se apresenta como alternativa à iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, acelerando o transporte de minerais críticos e produtos agrícolas a partir do interior africano.
Ao mesmo tempo, Angola tem tentado equilibrar esta relação com outras alianças, nomeadamente a China e a Rússia, que permanecem parceiros com interesses significativos nos recursos, infraestruturas e apoio militar.
A visita de Biden, inicialmente prevista para outubro, acontece já depois das eleições norte-americanas que deram a vitória ao republicano Donald Trump, e não terá por isso o impacto que se esperava, assinalando, ainda assim, a vontade de estreitar os laços e demonstrar o caráter mutuamente vantajoso da relação.
Mas ainda não é claro se a proximidade se manterá no mandato do seu sucessor, havendo oportunidades, num cenário de competição entre potências mundiais, mas também desafios que se prendem com a imprevisibilidade das políticas do futuro ocupante da Casa Branca.