spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Angola: Bispos católicos (CEAST) alertam para “iminentes convulsões sociais” devido ao agravamento da crise económica

Bispos católicos (CEAST) afirmam que grande parte da população angolana está em condição de indigência devido ao agravamento da carência alimentar, originada pela “penalizante carga fiscal e salários sem poder de compra”.

A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), em nota de reflexão pastoral sobre a situação atual do país, hoje divulgada, manifestam-se preocupados com a atual situação social das famílias angolanas, que dizem ter sido agravada com o aumento dos preços dos combustíveis e de outros serviços.

“Sentindo o grito do nosso povo e partilhando com ele as suas preocupações, eis que erguemos a nossa voz pela paz social e em defesa dos que menos podem suportar a carestia de vida, nos últimos tempos agravada com o aumento generalizado dos preços”, afirmam os bispos angolanos.

Para os bispos da CEAST, a maioria da população enfrenta uma “visível angústia” devido às últimas medidas económicas registadas no país, marcadas sobretudo pelo aumento gradual dos custos dos principais produtos e serviços, provocado pela subida dos preços do gasóleo.

Dizem constatar o “preocupante agravamento da carência alimentar e dos meios de sobrevivência em geral da maior parte das pessoas em todo território nacional”, e apelam igualmente aos decisores públicos e a todas as forças sociais que as atuais medidas económicas “clamam por concertações sociais mais inclusivas e ponderas antes da sua implementação”.

“Asfixiante perda do poder de compra”

Os bispos angolanos, reunidos em Luanda em conselho permanente alargado, consideram mesmo que a “escalada dos preços dos combustíveis funcionaram como o principal gatilho para a degradação social dos tecidos mais frágeis da sociedade, que antes viviam com parcos meios”.

Com o aumento dos combustíveis, cidadãos em Angola “veem-se agora na condição de indigência e sob asfixiante perda do poder de compra, sendo que os salários continuam a não crescer na mesma proporção”, sinalizam.

“Esta realidade é ainda penalizante pela pesada carga fiscal, que sujeita as pessoas a impostos múltiplos, deixando poucas alternativas a vida com dignidade a que se tem direito como pessoas”, refere-se na nota.

Há mais de uma semana que a tarifa dos táxis coletivos em Angola passou a ser de 300 kwanzas (0,28 euros) por viagem e a dos autocarros urbanos sobe para 200 kwanzas (0,19 euros) por viagem, desde segunda-feira (14.07), uma medida que surge na sequência do aumento do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro (0,28 para 0,37 euros) desde 4 de julho.

A situação deu origem à manifestação no sábado (12.07), em Luanda, reprimida pela Polícia com o lançamento de gás lacrimogéneo, facto que resultou em detenções, feridos e desmaios, como relataram os manifestantes na ocasião.

Para repudiar a atual situação socioeconómica do país, nomeadamente a subida do preço das propinas, dos combustíveis, da corrida do táxi, da água e eletricidade e do desemprego, os ativistas angolanos agendaram manifestações em várias províncias do país nos dias 19 e 26 de julho.

Iminente perigo de convulsões

Entendem os bispos que os protestos sociais resultam da “inevitável indignação popular” que “pode ameaçar a paz social, que começa a ser abalada por movimentos reivindicativos, muitas vezes reprimidos indevidamente por forças da ordem”.

Os religiosos criticam mesmo o “uso desproporcional da força policial, quando está em causa o legítimo direito de indignação popular”, e alertam que este “particular e melindroso” momento da história do país “colocam-nos sob o iminente perigo de convulsões a que já assistimos de forma intermitente”.

De acordo ainda com os bispos angolano da CEAST, a crescente carestia de vida, agora agravada pelas atuais medidas governamentais, clama por nova forma de abordagem de quem administra o bem público, exortando o Governo a rever as últimas medidas e encontrar caminhos menos penalizantes para os cidadãos.

Recordam igualmente que o país se prepara para celebrar 50 anos de independência, a 11 de novembro próximo, considerando que para os cidadãos seria uma belíssima prenda eles sentirem o “aligeirar do pesado fardo de uma economia penalizante”.

 

 

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img
spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Destaque

Artigos relacionados