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Bispos católicos (CEAST) dizem que corrupção é a “pior desgraça” em 50 anos de independência de Angola

Os Bispos católicos (CEAST) consideraram hoje que a corrupção tem sido a “pior desgraça” de Angola nos últimos 50 anos e exortaram o Governo a priorizar o combate à fome e à pobreza para travar a instabilidade social.

Segundo os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), a fome e a pobreza em Angola têm sido agudizadas por vários fatores, como a falta de políticas públicas sustentáveis na exploração dos recursos naturais, a corrupção, salários precários e a política fiscal “violenta”.

“São inúmeros os fatores que concorrem para a pobreza, mas é preciso também termos consciência de que o nosso país precisa de mudar muitas políticas, não pode habituar o cidadão receber tudo de graça, são muitos anos a dar tudo de graça e nenhum Estado consegue subsistir”, afirmou hoje o porta-voz da CEAST, Belmiro Chissengueti.

O bispo angolano, que falava numa conferência de imprensa de balanço da II Assembleia Plenária Anual da CEAST, que começou na quarta-feira e terminou hoje no Santuário da Muxima, Diocese de Viana, disse igualmente que os atuais salários praticados em Angola agravam ainda mais a carência das famílias.

Para o religioso, em Angola “existe a noção errada de que pagando mal pode-se ter mais trabalhadores e gastar-se pouco” quando, “na verdade, os elementos básicos da economia nos dizem que os bons salários criam bons consumidores que dinamizam o ciclo do comércio”.

“Não é compreensível que um país como Angola e que tem rios abundantes não consiga dar respostas às suas necessidades alimentares, mas também sabemos da existência de ‘lobbies’ da importação muito poderosos que de alguma forma ofuscam ou sonegam a produção nacional”, criticou, lamentando a degradação da produção nacional nas vilas e aldeias por “falta de escoamento”.

Um quadro “associado à gangrena da corrupção, que tem sido a pior desgraça dos últimos 50 anos depois da guerra”, afirmou, defendendo a aposta na meritocracia.

O porta-voz da CEAST criticou também a política fiscal angolana que, no seu entender, “é extremamente violenta para um país que não produz quase nada a ponto de”, observou, “a política fiscal estar a matar o empresariado nacional”.

“Diante da instabilidade social”, os bispos católicos angolanos, em comunicado final saído da plenária, exortaram o Governo a priorizar o combate à fome e à pobreza, criando dinâmicas de diálogo e concertação social. E defendem igualmente que as autoridades angolanas devem tornar a vivência do Jubileu da Independência Nacional – cujos 50 anos serão assinalados em 11 de novembro – como um “novo ponto de partida para a consolidação da paz e da reconciliação nacional”, exortando os atores políticos a “primarem por um discurso que privilegie a unidade na diversidade”.

Os bispos da CEAST aprovaram o programa do Congresso Nacional da Reconciliação, alusivo aos 50 anos de independência de Angola, agendado para 29,30 e 31 de outubro em Luanda, bem como a realização do Simpósio sobre o Ecumenismo 2026.

O Congresso Nacional da Reconciliação “é uma oportunidade para que os atores políticos e sociais possam avaliar o seu caminho e o percurso do país em 50 anos e fazer um propósito de caminhada futura”, notou.

Questionado sobre a cerimónia de condecorações presididas pelo Presidente angolano, João Lourenço, enquadrada nos festejos dos 50 anos de independência, que não distingue Holden Roberto (fundador da FNLA) e de Jonas Savimbi (fundador da UNITA), duas das figuras que, com Agostinho Neto (MPLA), assinaram o Acordo de Alvor em janeiro de 1975 com o então Governo português, o bispo defendeu acredita que devem ser condecorados nos próximos tempos.

“Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi são os pais da independência. Cada um teve suas virtudes e defeitos e devem ser reconhecidos como estando na base da independência do país”, concluiu.

 

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