O Ex-Primeiro-Ministro angolano Marcolino Moco defende a criação de mecanismos pacíficos para “acabar com o regime”. Em exclusivo à DW África, Marcolino Moco falou da despartidarização do Estado e manifestou dúvidas sobre uma possível vitória eleitoral da oposição.
Em exclusivo à DW África, o antigo primeiro-ministro de Angola do consulado de José Eduardo dos Santos, Marcolino Moco, começou por falar sobre atual situação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos.
Em outubro, o país tornou-se membro do Conselho dos Direitos Humanos da ONU para o triénio 2026-2028.
Marcolino Moco aponta como exemplo de violação de direitos o caso dos “presos políticos” detidos na sequência da subida dos preços dos combustíveis e do táxi, bem como a greve dos taxistas e não vê diferença entre o que ocorre hoje com os “castigos e prisões” dos 500 anos do processo de colonização português.
“Hoje temos essa vergonha, pessoas que estão presas sem qualquer razão. Esses jovens estão presos porquê? Qual é a diferença que atribuímos até hoje aos colonizadores europeus? A diferença é para pior”, critica.
Que caminhos?
Cinquenta anos depois da libertação de Angola do julgo colonial, o antigo secretário-geral do MPLA, o partido no poder desde 1975, diz, por isso, que “os africanos já perderam o direito de se pronunciar contra a colonização europeia”.
“Agora deveriam falar mais na responsabilização das atuais lideranças, sobretudo políticas”, defende.
Marcolino Moco também fala sobre a pretensão de mudança dos jovens por “derramamento de sangue”. O académico diz entender a posição da juventude e afirma que esta defesa surge em função da atual governação do país.
“É evidente que eu não defendo isso. [Mas] é possível encontrarmos um caminho para acabar com o tipo de regime que temos, que se apresenta como uma democracia, mas mata, esfola, castiga mais do que eu vi o colono e a PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado] fazer”, afirma.
MPLA fora do poder?
Questionado sobre se “acabar com o regime” significava tirar o MPLA do poder, Moco responde: “Não necessariamente”.
“Podia também estar outro partido qualquer no poder a fazer a mesma coisa. É transformar esse regime sem referência a partidos. A referência faz-se ao MPLA porque, naturalmente é o MPLA que está no poder. Mas o que eu defendo é uma coisa que está acima dos partidos políticos”, acrescenta.
Por essa e outras razões, Marcolino Moco também defende a despartidarização do Estado. Quanto à bipolarização da sociedade, o político entende que se deve pôr de lado a UNITA, maior partido da oposição em Angola, e outros partidos políticos quando se trata de despartidarizar o país.
“Devíamos pôr de lado também o próprio MPLA, só que o MPLA está colado ao próprio Estado. É o agente da partidarização”, acusa.
E o ex-primeiro-ministro também propõe: “Então, nós vamos despartidarizar sem olhar a partidos políticos, porque conforme o Estado está partidarizado, amanhã, no lugar do MPLA colocamos a UNITA, que vai fazer a mesma coisa”.


