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Angola: Manifestações põem à prova regime e enfraquecem João Lourenço

Os manifestantes prometem voltar às ruas brevemente e o Presidente da República João Lourenço enfrenta assim as maiores contestações.

O dia 11 de Novembro de 2020 vai ficar na história pelos piores motivos. Uma data que deveria servir de festejos e ao mesmo tempo de reflexão dada a actual situação económica e social do País, constituiu uma oportunidade para os jovens reivindicarem, um pouco por todo o País, melhores condições de vida, mais empregos e a realização das eleições autárquicas numa manifestação pacífica.

A resposta das autoridades foi desproporcional. Um forte aparato policial estacionado nas principais avenidas e ruas na cidade capital reprimiu violentamente os manifestantes, saudando-se numa vaga de detenções e espancamentos, facto ocorrido igualmente em outras província do País.

Fruto dos excessos do forte aparato policial, há pelo menos o registo de uma morte causada por disparo de arma de fogo perpetrado por um agente da Polícia Nacional. Inocêncio de Matos, um estudante do terceiro ano de Engenharia pereceu quando reclamava pelos seus direitos, que no fundo são de todos.

Os manifestantes prometem voltar às ruas brevemente e o Presidente da República João Lourenço enfrenta assim as maiores contestações públicas desde que tomou posse há três anos. Um consulado marcado pelo aumento do custo de vida, novos impostos, falta de emprego, entre outros, o que tem acelerado a ira da população sobre a actual governação.

Condenada pela sociedade civil e organismos internacionais, a manifestação mostrou mais uma vez a determinação da juventude de reivindicar os seus direitos, que consideram estarem a ser violados por promessas que não passam disso mesmo.

Péssima imagem

Numa nota assinada por Salvador Freire dos Santos, a Associação Mão Livre diz que as Organizações da Sociedade Civil Angolana têm vindo a alertar as autoridades sobre o desrespeito aos direitos humanos que ocorre actualmente no País, com prisões ilegais, torturas, maus tratos e tratamento cruel e degradantes contra os cidadãos indefesos que em algumas vezes resulta em mortes em Luanda e no resto do País.

Enquanto isso, diz a nota, como prova, imagens de mortes e torturas arrepiantes circulam o mundo testemunhando avanços de acções violentas praticadas por agentes da Polícia Nacional contra cidadãos indefesos, entre eles jornalistas independentes e activistas de direitos humanos, sobre um padrão alarmante e contínuo de detenções arbitrárias e ameaças contra qualquer pessoa considerada oponente do regime.

“Os cidadãos tidos como presos relataram que muitos daqueles que foram detidos arbitrária ou ilegalmente permanecem presos e descreveram a contínua violência e restrição às liberdades civis, tanto contra os detidos quanto contra os membros das famílias dos mesmos”

O documento observa ainda que os activistas e demais membros da sociedade civil angolana clamam às autoridades políticas e policiais que libertem todos os presos, imediatamente, que permita o retorno ao diálogo entre as autoridades políticas com os membros da sociedade civil, incluindo a Polícia Nacional, e para que se engaje em um diálogo genuíno com a aliança dos partidos políticos na oposição.

“À luz do acima exposto, apelamos ao Governo de Angola para libertar imediata e incondicionalmente todos os activistas juntados pela Polícia Nacional incluindo Maurício Gimbi, André Bonzela e o João Mampuela em Cabinda, exercitar urgentemente medidas adequadas para evitar a propagação da COVID-19 nas prisões e unidades policiais, em harmonia com as medidas de prevenção da pandemia recomendadas pela Organização Mundial da Saúde”.

A organização alerta ainda às autoridades a proteger os direitos à liberdade de expressão, associação e de reunião pacífica em Angola e garantir que os cidadãos possam praticar esses direitos pacificamente sem medo de retaliações, além de engajar-se verdadeiramente com o povo, a fim de ouvir e responder às suas preocupações.

Estevão Martins

Vanguarda 

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