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A caminho das eleições gerais de 2022: “O Dilema de todos Nós” – Walter Ferreira

A opinião pública, os círculos de conversa e nos corredores da participação política e cívica cogita-se que teremos uma disputa eleitoral frenética . Estamos na fase derradeira do fim do mandato exercido pelo MPLA. O dilema entre o voto da continuidade , renovação ou mudança e ruptura , ocupa as atenções da observação eleitoral.

As cogitações do processo eleitoral têm-se traduzido na maior expectativa do combate político e potenciam o pilar da democracia assente na livre decisão das escolhas. O que está em causa não é a cogitação, mas a preocupação da força do tempo em que emergem novas convicções dos cidadãos eleitores.

Não se apresentam visões do projecto político de governação, sociedade, pois, o que se expõe é o discurso na certeza absoluta da convicção antecipada dos resultados eleitorais . Por vezes, esta certeza absoluta dificulta uma estratégia de comunicação para a aproximação à sociedade.

A classe operária passa a reivindicar e coloca-se como uma força de pressão ao poder. O poder identifica esta pressão como uma estratégia motivada pela oposição partidária. Por sua vez , esta mesma oposição partidária ilude-se com os protestos do povo como sendo uma garantia a satisfazer o sentimento de alternância política.

“O drama que estamos a viver é suportado pela acção do tempo, não é ambíguo como se pretende analisar em pareceres desconexos e desencontrados com a fluidez da realidade”. Estes desencontros de análise política provocaram precipitação causando mais reacção e menos prevalência de inteligência política, que se tem misturado com inteligência securitária. Esta última atende a preservação do poder e a primeira no caso da inteligência política trás consistência , promove a eficácia de uma campanha eleitoral exigente ou menos previsível.

Os adversários do poder preferem explorar a luta da sociedade, protagonizando a advocacia pública e procurando interpretar no sentimento do povo uma hipotética vontade geral.

Chegamos à principal disputa pelo poder. “As eleições e os eleitores passam a ter relação directa no jogo político. É neste compromisso por onde os cenários começam a ganhar maior destaque e importância”. A fome , desemprego e o quadro de retração económica podem não ser fundamentos de alteração da força política dominante; contextos da realidade, mas não elementos de aceitação para a objectividade do voto.

As tecnologias de informação, no caso das redes sociais, foram afectadas pela invasão da manipulação , confusão , excasso recurso ao contraditório ou elevação das ideias. Suspendeu – se o debate, o diálogo pela desinformação de tão pouco efeito convincente .

É neste barômetro eleitoral que deixamos de acreditar no poder influenciador da igreja. Essa elite simbolica hoje dividida , mais crítica e menos vulnerável , deixou de ser simpática ao poder e encontrou oportunidade para se deslocar de uma parte que é exclusiva à missão moral. “A igreja não persegue fins políticos, mas passou a comunicar politicamente. Não interfere na vida dos partidos políticos , questiona, não apenas o ideal de justiça social, mas interpela o poder pela comunicação dos seus veículos e do espaço privilegiado que os reserva a participação social . Os seus actores falam em nome do povo, tornando-se num segmento de pressão política na busca de uma nova consciência pública”.

Novos compromissos sociais manifestam-se e começam a proporcionar tendências na forma de representação política. A sociedade civil e os grupos de pressão caminham com aliança da autoridade moral da igreja. Esta instituição tradicionalista, apesar de ser parceira do Estado não se coibiu da sua responsabilidade evangélica. Persiste na luta pela resistência da sua submissão , confronta o seu interlocutor pelos vasos comunicantes de que dispõe . A tradicional representação política dos partidos políticos tem-se revelado suspeita e insuficiente para a cooptação de cidadãos, cujo horizonte eleitoral dos últimos anos tem provocado abstenção no exercício do direito de votar.

O poder, pelo instrumento do partido, faz da propaganda política a sua arma vigilante, acumulando adversários indefesos ou mesmo inexistentes e colabora com a antipatia junto dos sectores sociais, distanciando – se dos espaços alternativos fora do seu controlo e criando relações de choque , sem cordialidade e desprezo na abordagem pública.

O papel pedagógico da comunicação social ajuda nos actos da observação eleitoral dos cidadãos, revelando-se urgente expurgar todo o discurso detrator, perigoso a moralizador da conduta eleitoral, capaz de salvar o cidadão do sensacionalismo e colocá-lo na posição expoente, galvanizador da paz e da continuidade do Estado democrático.

“Porque o mundo é um sistema de subsistemas, não há círculos de interesses que se possam sobrepor ao interesse geral”. Num estado de direito, a vontade expressa de cada um não precisa de agradar a outrem, mas a conquista individual representará sempre a afirmação da democracia.

 

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