Testou negativo, foi convocado, começou no banco. Ronaldo entrou apenas na segunda parte da visita ao Spezia, marcou duas vezes (incluindo um penálti à Panenka) e deu a vitória à Juventus (1-4).
19 dias e dezenas de testes depois, Cristiano Ronaldo testou negativo para a Covid-19. Perdeu o jogo da Seleção Nacional com a Suécia, os confrontos da Juventus na Serie A com o Crotone e o Verona e os compromissos da Liga dos Campeões com o Dínamo Kiev e o Barcelona. Voltava este domingo, contra o Spezia. Mas não sem antes causar alguma polémica.
Ainda em isolamento, o jogador português partilhou uma fotografia com a descrição “Kaizen Philosophy”, em referência à filosofia que advoca “mudanças processuais e incrementais contínuas que sustêm um alto nível de eficiência”. Ora, em declarações ao jornal AS, uma psicóloga espanhola garante que este tipo de pensamento em nada se adequa à personalidade de Ronaldo. “Esta filosofia não é indicada para pessoas com egos enormes, excesso de confiança e mania de grandeza. O princípio que rege o método Kaizen é de melhoria contínua e gradual, é o que nos leva a alcançar as grandes mudanças que nos aproximam da realização dos nossos objetivos. Não vejo o Cristiano Ronaldo com as características de uma pessoa que precisa de usar este método e não deveria recorrer a ele de uma forma tão leviana”, explicou Beatriz Villagrasa.
Ora, apesar disso, a verdade é que o jogador português superou a Covid-19, testou negativo depois de mais de duas semanas em isolamento e a inclusão na convocatória da Juventus para este fim de semana foi confirmada por Andrea Pirlo ainda antes de a chamada do treinador ser oficialmente anunciada. “Ele está bem, quer voltar a trabalhar com os companheiros e vai viajar com a equipa. Treinou em casa, mas não é como treinar em campo. Não creio que jogue de início, mas é um jogador importante e vem connosco para Cesena”, disse o técnico da antevisão da visita ao Spezia.
Cristiano Ronaldo começou mesmo no banco de suplentes, com Morata e Dybala a manterem os lugares na frente de ataque. No meio-campo, Arthur e Weston McKennie eram titulares, com Ramsey e Rabiot a saírem do onze, e Chiesa e Bentancur continuavam a completar o setor intermédio da Juventus. A jogar já depois de o AC Milan ter vencido a Udinese graças a mais um golo decisivo de Ibrahimovic, a equipa de Pirlo estava obrigada a ganhar para manter os quatro pontos de desvantagem para os rossoneri e não arriscar ficar desde já atrás da Atalanta e do Inter Milão, que também já tinham vencido esta jornada.
Em dia de 123.º aniversário, a Juventus assumiu depressa o controlo do jogo, de forma natural, e ia atacando principalmente a partir do lado direito, onde McKennie aparecia muito entrosado com Cuadrado e com as movimentações de Dybala. Acabou por ser o médio norte-americano a fazer a assistência para o golo que abriu o marcador: Danilo tirou um passe vertical brilhante para a grande área, McKennie apareceu desmarcado e entregou a Morata, que só precisou de encostar para a baliza deserta (14′). O lance ainda esteve sob revisão do VAR mas o golo acabou por ser confirmado, com todos os jogadores da Juventus a correrem para congratular o avançado espanhol, que a meio da semana contra o Barcelona teve três golos anulados pelo vídeoárbitro.
O fado de Morata voltou a aparecer pouco depois, com o avançado a ver mais um golo anulado por fora de jogo (23′), e a Juventus ficou perto de aumentar a vantagem com diversas jogadas de boa qualidade. A partir da meia-hora, porém, o Spezia reagiu e começou a ganhar alguns metros, com Ricci a ficar muito perto do empate (31′). O golo apareceu logo depois, através de Pobega, que aproveitou um desvio de Demiral para bater Buffon na sequência da passividade da defesa bianconeri (32′). Até ao intervalo, McKennie ficou à beira de marcar mas viu Chabot, com um enorme corte, evitar o golo (44′). No fim da primeira parte, tornava-se cada vez mais provável o regresso de Cristiano Ronaldo à competição.
O jogador português não entrou no arranque na segunda parte — nem ele nem ninguém, já que Pirlo não fez substituições ao intervalo — e a Juventus deu mostras de querer voltar ao jogo como o começou, com intensidade e criatividade no meio-campo adversário. Ainda assim, a Spezia mantinha uma pressão alta e uma estratégia bem desenhada que aproveitava principalmente as fragilidades defensivas dos bianconeri, que são claramente o calcanhar de Aquiles da equipa. Com o empate a prolongar-se no tempo, Cristiano Ronaldo acabou por entrar quando faltava pouco mais de meia-hora para o apito final: para o lugar de Dybala, que saiu claramente descontente depois de ter sido um dos melhores em campo, ao contrário dos apagados Chiesa e Bentancur. Mas o que é certo é que Ronaldo, 19 dias de isolamento e dezenas de testes depois, só precisou de três minutos para fazer a diferença.
No segundo lance em que esteve envolvido, o jogador português apareceu na faixa central, recebeu de Morata, aguentou a pressão adversária, passou pelo guarda-redes e rematou rasteiro para a baliza deserta (59′). No regresso à competição, o jogador português demorou três minutos a marcar e assinalou ainda o 17.º aniversário do primeiro golo ao serviço do Manchester United, a 1 de novembro de 2003, o dia em que começou uma carreira internacional de goleador.
Chabot viu Buffon, com uma defesa enorme, roubar-lhe o empate (64′) e Pirlo reagiu à vantagem com as entradas de Ramsey e Rabiot. O médio francês também só precisou de breves instantes para marcar: Chiesa descobriu Rabiot na esquerda da grande área e o ex-PSG finalizou um lance individual com um remate rasteiro depois de ter tirado um adversário da frente com um bom pormenor (67′). Até ao fim, Chiesa ainda sofreu uma grande penalidade e Cristiano Ronaldo, na conversão, marcou o segundo golo no jogo à Panenka e chegou aos cinco esta época na Serie A em três jogos.
A Juventus voltou às vitórias depois de dois empates consecutivos na Serie A (os dois jogos em que Ronaldo não esteve) e está agora no segundo lugar da classificação provisoriamente, já que Sassuolo e Nápoles ainda não jogaram esta jornada. O jogador português perdeu quatro jogos, voltou e nem metade de uma partida disputou: mas foi o suficiente para bisar, dar a vitória à equipa de Pirlo e ainda assinar um praticamente inédito Panenka.