Talibãs acusam EUA de incentivarem afegãos a sair do país e por isso só estrangeiros podem ir para o aeroporto de Cabul. Islamistas ameaçam com”postura diferente” caso EUA não saiam a 31 de agosto.
Os talibãs proibiram os afegãos de se deslocarem até ao aeroporto de Cabul e rejeitam a possibilidade de a presença norte-americana no Afeganistão ser prolongada para lá de 31 de agosto, conforme desejam vários parceiros dos Estados Unidos, nomeadamente o Reino Unido e a França.
“A data estabelecida foi 31 de agosto, portanto depois disso é algo que vai contra o acordo”, afirmou Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, citado pela Sky News, numa conferência de imprensa esta terça-feira em Cabul. “Todas as pessoas devem ser removidas antes dessa data (…) depois disso, não permitiremos, vamos ter uma postura diferente”, ameaçou.
Mujahid disse que o prazo de 31 de agosto é suficiente para que todos os cidadãos estrangeiros abandonem o Afeganistão, indo ao encontro do que já tinha dias antes, quando referiu que a continuidade das tropas norte-americanos em território é uma “linha vermelha” que não pode ser ultrapassada e que, caso fosse, teria consequências. Além disso, acrescentou que “não está a favor” da saída de afegãos do país, e prometeu que os talibãs não pretendem perseguir quem colaborou com os Estados Unidos.
“Esquecemos tudo o que está no passado”, garantiu Mujahid, insistindo que os talibãs querem “paz e estabilidade” no Afeganistão, declarações que vão em linha com a tentativa de moderação que os islamistas têm tentado passar desde que assumiram o controlo do Afeganistão, embora as suas promessas sejam encaradas com muita desconfiança.
Prova disso, é que milhares de afegãos aguardam no aeroporto de Cabul uma oportunidade para fugir do país, temendo a perseguição de um governo talibã baseado na lei islâmica, à semelhança do que aconteceu entre 1996 e 2001.
A estes receios, os talibãs tentam contrapor com promessas de estabilidade, e Zabihullah Mujahid garantiu esta terça-feira que os media afegãos, os hospitais, as escolas, as universidades e os governos locais estão a funcionar novamente. Quanto aos direitos das mulheres, os talibãs garantem que é uma questão de tempo até estas poderem voltar ao trabalho, sublinhando que apenas estão em casa nesta fase por uma questão de segurança. Além disso, o porta-voz dos islamistas garantiu que que todos os salários serão pagos e prometeu garantir a segurança dos funcionários das embaixadas, garantindo que as missões diplomáticas estrangeiras são bem-vindas no país.
Os estrangeiros que queiram abandonar o Afeganistão, no entanto, têm a autorização dos talibãs, o que vai deixar de acontecer com os cidadãos afegãos. Zabihullah Mujahid anunicou em conferência de imprensa que os afegãos “já não têm permissão para ir para o aeroporto de Cabul”, justificando a decisão com a situação caótica que se vive no local, com milhares de pessoas a tentarem escapar do país.
Nesse sentido, para garantir a segurança, o porta-voz talibã pediu aos afegãos para ficarem em casa até que a situação estabilize.
Mujahid acusou ainda os Estados Unidos de incentivarem os afegãos a abandonarem o país. “Pedimos aos americanos para que não incentivarem os afegãos a sair. Precisamos do seu talento”, afirmou Mujahid, referindo-se, particularmente, à “elite educada”, como engenheiros e médicos.