Os governos cabo-verdiano e angolano querem uma parceria entre as companhias aéreas de bandeira TACV e TAAG, e o desenvolvimento dos ‘hub’ no Sal e Luanda, para servir os mercados africanos nas ligações à Europa e América.
“No domínio comercial temos, sim, a oportunidade de procurar restabelecer a ligação da TAAG a Cabo Verde, procurando também tirar partido daquilo que são as oportunidades para além de Cabo verde, dando suporte à ideia à constituição de um ‘hub’ aqui em Cabo Verde, nesta região, assim como também complementar esse ‘hub’ com o de Luanda, que também é nossa intenção estratégica”, afirmou hoje o ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas d’Abreu.
O governante terminou, na Praia, uma visita de três dias a Cabo Verde, para analisar os vários instrumentos jurídicos, acordos e memorandos de entendimento assinados entre os dois países nos últimos anos e que ambos os governos defendem que devem ser acompanhados e implementados na prática.
Na conferência de imprensa de balanço da visita, o ministro Ricardo Viegas d’Abreu explicou que o “foco” das companhias aéreas de bandeira dos dois países são os continentes europeu e americano, e respetivas ligações às regiões africanas em que Cabo Verde e Angola estão inseridas, através dos ‘hub’ que estavam em implementação antes da pandemia de covid-19, no Sal e em Luanda.
“É nosso desejo, a nível de Angola, manter a companhia aérea de bandeira [TAAG] enquanto instrumento estratégico do país, mas esse crescimento tem de ser feito num formato mais sustentável”, disse, face aos impactos da pandemia, apontando a necessidade de estabelecer parcerias.
“E Cabo Verde é claramente um parceiro natural e a TACV [Transportes Aéreos de Cabo Verde] um parceiro natural da TAAG”, enfatizou Ricardo Viegas d’Abreu, defendendo que o “novo normal” pós-pandemia favorece “parcerias” nos mercados onde as companhias estão inseridas.
Na mesma conferência de imprensa, e embora sem entrar em detalhes sobre as negociações que decorreram em paralelo entre as administrações das duas companhias aéreas públicas — no caso da TACV renacionalizada em julho e sem realizar voos comerciais desde 19 de março de 2020 devido à pandemia – o ministro dos Transportes de Cabo Verde, Carlos Santos, assegurou que em breve serão apresentadas as “complementaridades” possíveis.
“Chegamos à conclusão que há de facto entre os dois países, entre as duas nações irmãs, espaço para uma maior intensificação nas relações, oportunidades muito interessantes que podem ser extraídas pelas empresas TACV e TAAG”, destacou o ministro cabo-verdiano, referindo que esse reforço na aproximação com Angola, neste domínio, pode também passar pelo relacionamento entre as agências reguladores da aviação civil ou nos transportes marítimos, temas que foram igualmente abordados nos últimos dias com a delegação angolana.
“E podemos dizer que estamos a olhar seriamente para a criação de uma verdadeira parceira estratégica entre Angola e Cabo Verde, no domínio dos transportes, sejam eles aéreos, sejam eles marítimos”, afirmou Carlos Santos.
Santos disse ainda que está prevista a retoma da atividade da TACV no primeiro trimestre de 2022, apesar de admitir tratar-se de um processo complexo, devido aos efeitos da pandemia, ficando expectante na aproximação com a angolana TAAG.
“Mas podemos dizer que dessas reuniões saíram alguns entendimentos sobre o formato de parceria que pode existir entre essas duas companhias, que pertencem a dois países que estão inseridos em áreas geoestratégicas e geoeconómicas distintas e que podem daí surgir complementaridades de negócio”, apontou, recordando que as duas empresas já tinha outros acordos, como de ‘codeshare’, antes da pandemia.
Para Carlos Santos, é preciso agora “operacionalizar essas ideias” de parceria: “Como é que nós podemos fazer com que uma vantagem da TAAG pode ser bem utilizada pela TACV, e como é que vice-versa também pode ser feito”.
Já Ricardo Viegas d’Abreu espera que os vários acordos e protocolos no domínio dos transportes entre os dois países, assinados sobretudo desde 2018, passem a ser “mais eficazes e efetivos” a partir de agora, com encontros períodos entre os dois governos e com o “desejado” envolvimento do setor privado de Angola e Cabo Verde.