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África: Comunidade internacional condena “golpe de estado” e exige libertação de Alpha Condé

As forças militares guineenses anunciaram este domingo, 5 de Setembro, ter dissolvido as instituições do país com a destituição do Presidente Alpha Condé e do governo. Este é o quarto golpe de Estado na África Ocidental no último ano.

Militares dissolveram instituições e declararam recolher obrigatório na Guiné Conacri. França condena tentativa de golpe e apela à libertação de Alpha Condé. Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, CEDEAO e UA condenaram o golpe militar e exigem a libertação “imediata” do Presidente guineense.

Em poucas horas os militares derrubaram, sem recorrer a violência, o homem no poder há dez anos. Após uma manhã confusa, durante a qual os militares tomaram as ruas de Conacri com recurso a armas, o chefe das forças especiais, o tenente-coronel Mamady Doumbouya, anunciou ter destituído o Presidente Alpha Condé

“Dissolvemos a Constituição e as instituições: o governo foi dissolvido. Fechámos as fronteiras terrestres por uma semana. Veremos em seguida o que fazer em termos de fronteiras aéreas. Com todos os nossos camaradas vamos encontrar a solução para sairmos deste esbanjamento de meios”, declarou o tenente-coronel Mamady Doumbouya à Rádio e Televisão da Guiné (RTG).

Mamady Doumbouya pediu aos militaram para que “se mantenham nos quartéis no cumprimento das funções que lhes são próprias. Vamos promover uma concertação nacional para encetar uma transição inclusiva e pacífica. Mais ninguém deve morrer assim, ninguém deve morrer por questões políticas. Vamos trabalhar juntos com todos os nossos parceiros: bilaterais e multilaterais.Assim sendo confirmo o respeito pelos compromissos em relação a organizações internacionais: o guineense cumpre com a sua palavra”, concluiu.

Os funcionários da embaixada da Guiné-Bissau não foram esta segunda-feira trabalhar. Uma medida tomada “por precaução”, descreve Rosi Cancola, conselheiro da embaixada da Guiné-Bissau em Conacri. “O dia de ontem foi uma euforia e decidimos que ninguém ia trabalhar hoje. A situação está calma”, acrescentou.

A comunidade guineense em Conacri encontra-se bem; “esta manhã contactámos o adido militar que nos deu informações de que está tudo bem”.

Mamady Doumbouya, uma personalidade até então desconhecida, surgiu ontem como o novo homem forte da Guiné. Trata-se de um militar experiente que recebeu treino em Israel, Senegal, Libéria e França. Antigo membro da Legião Francesa, participou de várias missões no Afeganistão, Costa do Marfim, Jibuti e República Centro-Africana. Em 2018 foi destacado pelo Ministério da Defesa para criar um grupo de Forças Especiais no Exército Guineense, que lidera desde então.

Rosi Cancola, conselheiro da embaixada da Guiné-Bissau em Conacri, trabalha no país desde o mês de Fevereiro. “Não sei bem quem é Mamady Doumbouya. Ontem descreveram-no como sendo um militar formado em França e Israel”, descreveu.

Quanto às reacções da comunidade internacional, Rosi Cancola, não reage, aguardando “ordens de superiores; do Presidente da República, da ministra dos Negócios Estrangeiros e do governo” para poder “reagir”. Creio que a Guiné-Bissau se vai pronunciar brevemente” sobre a situação.

Comunidade internacional condena golpe de Estado

A Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) exigiu no domingo a “imediata” e “incondicional” libertação do Presidente Alpha Condé.

“CEDEAO exige respeito pela integridade física de Alpha Condé, a sua libertação imediata e sem condições, bem como de todas as personalidades detidas pelos militares”, adianta a CEDEAO.

A organização, dirigida pelo presidente do Gana, Nana Akufo Addo, manifestou “preocupação” com os “recentes desenvolvimentos políticos” em Conacri e condenou “firmemente” o que considerou uma “tentativa de golpe de Estado”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou “veementemente” o golpe na Guiné e exortou os oficiais que afirmam ter tomado o poder e dissolvido o governo a libertarem o Presidente de 83 anos.

A União Africana (UA) condenou o golpe de Estado, no qual o Presidente Alpha Condé foi detido por militares a quem a organização continental exigiu a “libertação imediata”.

Num comunicado conjunto, o presidente da UA, o Chefe de Estado da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e o Presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, reprovaram “a tomada de poder pela força”, exigindo a “libertação imediata” de Conde. A organização insta o Conselho de Paz e Segurança e da Organização Pan-africana a reunir-se “com urgência para examinar a situação na Guiné e tomar as medidas apropriadas, dadas as circunstâncias”.

Contexto político na Guiné Conacri

Alpha Condé, de 83 anos, é presidente da Guiné desde 2010 e foi eleito para um terceiro mandato em Outubro de 2020, depois de uma eleição agitada, da resultaram dezenas de mortes em confrontos entre cidadãos e forças da ordem. A Constituição guineense limita a dois mandatos a função de chefe de Estado, mas a reforma constitucional levada a cabo pelo Presidente guineense permitiu que fosse eleito para um terceiro mandato. O principal líder da oposição, Cellou Dallein Diallo, contestou a candidatura e os resultados, gerando protestos de cidadãos e dezenas de mortes.

Com cerca de 13 milhões de habitantes e apesar de muitos recursos minerais e naturais, a Guiné continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Desde a sua independência da França, em 1958, conheceu uma sucessão de ditaduras e golpes de Estado que pareciam ter chegado ao fim com a chegada ao poder do histórico e veterano líder da oposição Alpha Condé nas suas primeiras eleições livres, em 2010.

O optimismo com a chegada da democracia à Guiné traduziu-se em anos de crescimento económico, com ajuda de investimento estrangeiro. No entanto, os números não se traduziram em melhorias na qualidade de vida da maior parte da população: a taxa de pessoas abaixo do limiar da pobreza ultrapassa os 50% da população. A crise económica provocada pela epidemia de Ébola (2014-2016) agravou a economia do país, como também o impacto da pandemia Covid-19.

 

 

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