O vice-governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Rui Miguéns, disse que o banco central está a ultimar a solução para a recapitalização do Banco Económico, sem se comprometer com prazos, mas indicando que vai acontecer ainda este ano.
Rui Miguêns adiantou, à margem da apresentação do estudo da Deloitte Angola “Banca em Análise”, que os valores necessários, que foram calculados com base na Avaliação da Qualidade de Ativos (AQA), promovida em 2019 pelo BNA, precisam de ser constantemente reavaliados porque, entretanto, o Banco Económico – que surgiu após a falência do Banco Espírito Santo Angola (BESA) – continuou a operar, sem referir os montantes.
“No que diz respeito ao programa de recapitalização, temos (a nível do BNA) uma ideia de como o banco poderá ser recapitalizado. Estamos a concluir esse estudo e muito brevemente daremos notícia, a solução ainda está a ser calibrada para percebermos todos os contornos”, disse, escusando-se a revelar mais detalhes.
“A única coisa que poderemos dizer é que vamos procurar uma solução que seja equilibrada e que tenha em cota os interesses de todos, quer clientes, quer acionistas, quer outros ‘stakeholders’ do banco, que permita que o banco recupere e funcione de forma normal e consistente”, declarou.
No mês passado, a Moody’s reviu em baixa o ‘rating’ do Banco Económico para Caa3, pelo tempo que a instituição bancária está a levar para finalizar o processo da sua recapitalização, justificado por “fatores exógenos”, nomeadamente a baixa do preço do petróleo.
O estudo de identificação de soluções para “salvar” o Banco Económico iniciou-se em 2019, após a divulgação dos resultados da qualidade dos ativos deste banco, sendo que o processo devia terminar em 2020, mas devido à pandemia da covid-19 os prazos foram alterados.
O presidente da Deloitte Angola, José Barata, considerou que, apesar do decréscimo dos resultados, no ano de 2020 “o sistema [financeiro] como um todo continuou a ter resultados positivos”, não obstante o desempenho do Banco de Poupança e Crédito (BPC).
Do lado positivo, destacou o aumento dos depósitos de clientes e as transações crescentes através de meios de pagamento eletrónicos.
Os resultados líquidos da banca angolana afundaram-se 237% em 2020, com perdas de 218 milhões de euros, refletindo o reconhecimento da menos-valia na cessão de 80% da carteira de crédito malparado do Banco de Poupança e Crédito (BPC, público) à RECREDIT.
Os dados constam do relatório “Banca em análise” da Deloitte Angola, hoje apresentado e no qual se dá destaque à “trajetória mista dos principais indicadores do setor face a 2019” e onde se refere que o resultado líquido do setor bancário nacional registou uma redução para um valor negativo acumulado de 166 mil milhões de kwanzas (218 milhões de euros).
Caso o BPC não fosse considerado, o resultado líquido agregado dos bancos analisados no estudo da Deloitte registaria um decréscimo de 32% face a 2019.
O prejuízo de 525 mil milhões de kwanzas (688 milhões de euros) apresentado pelo BPC em 2020 é o maior prejuízo da história da banca angolana, sendo que, nos últimos anos, tem vindo a apresentar prejuízos sucessivos, indica-se no documento.
Rui Miguêns indicou que, de acordo com o plano de reestruturação do próprio banco, “nos próximos tempos ainda poderão prevalecer resultados negativos, mas o banco deve recuperar a médio prazo”.
“O banco está obviamente a passar dificuldades, mas acredito que, quer a administração, quer os clientes, quer outros ‘stakeholders’ do BPC estão empenhados em que o banco possa prestar o serviço de que a economia precisa e que os clientes demandam”, frisou.
O estudo incidiu sobre 26 bancos que integram o sistema financeiro angolano.
O relatório não incluiu o Banco Económico, uma vez que as respetivas demonstrações financeiras do exercício de 2020 não se encontravam disponíveis na data do estudo.