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África do Sul: Reflexão sobre as relações entre EUA e a África do Sul

Os EUA tiveram no passado relações de aproximação ao regime do apartheid e era por este canal de proximidade que a África do Sul era usada para ajudar a travar a expansão do comunismo na África Austral, apoiando a UNITA de Jonas Savimbi. O Apartheid considerava o ANC uma organização terrorista, e os EUA por sua vez, incluíram os nomes de dirigentes deste movimento africano, dentre os quais o de Nelson Mandela na sua lista negra de pessoas que não podiam entrar em seu território. Depois da abertura do multipartidarismo, o novo governo do ANC, passou a olhar para EUA como um país que quer sempre impor a sua vontade ao mundo.

Em Junho de 1990, durante o seu primeiro périplo pelos Estados Unidos da América, a frente de uma delegação do ANC, Nelson Mandela, declarou em Nova Iorque que ″Um dos erros que o mundo comete é pensar que seus inimigos deveriam ser nossos inimigos″. Mandela que falava num espaço acadêmico, em Nova Iorque acrescentava dizendo que ″a nossa atitude em relação a qualquer país é determinada pela atitude desse país em relação à nossa luta″. Mandela referia-se a Fidel Castro, Yasser Arafat, ao coronel Kadhafi, os lideres que apoiavam a luta do ANC contra o regime do apartheid.

O governo sul africano tem como alinhado internacionais a China, Cuba e Rússia que são países adversários mundiais dos EUA. Ainda no campo ideológico, os Estados Unidos e África do Sul tem posições opostas quanto o conflito no médio oriente. O governo do ANC sempre apoia a palestina, porque olha com reservas o Estado de Israel, que no seu ponto de vista comporta-se como um pequeno regime do apartheid.

Os sul africanos sentem-se mais confortáveis com os democratas no poder. Os presidentes democratas como Bill Clinton e Barack Obama visitaram África do Sul. Já Donald Trump, tem uma relação não cordiais com a África do Sul, apesar de ter saudado o Presidente Ciryl Ramaphosa pela forma como está a conduzir o combate contra o Covid-19, e os Estados Unidos terem dado USD 46 milhões em apoio à resposta da Covid-19 neste país.

Em 2018, fez um twitter a insinuar que África do Sul estava a matar os fazendeiros brancos criando um irritante entre dois países. A África do Sul teve de chamar a então encarregada de negócios norte americana, Jessica Lapenn para esclarecer as palavras de Donaltd Trump. Desde que se tornou Presidente dos Estados Unidos, Trump levou dois anos para nomear um novo embaixador em Johanesburgo, em substituição de Patrick Gaspard, indicado pelo Barack Obama. Quando fê-lo, em Outubro de 2019, nomeou Lena Marks, uma amiga estilista, socialite, e sem experiência. Marks que é filha de imigrantes lituano. Nasceu, e cresceu na África do Sul. Fala Xhona e Afrikans.

Os sul africanos sentem que o republicado Donald Trump nunca fez menção positiva a Mandela nas suas comunicações, apesar ter sido ele, o empresário que em 1990 colocou o seu avião Trump Shuttle 727, a disposição da delegação (de 80 pessoas) sul africana chefiada por Mandela que fazia périplo por vários estados norte americano.

Em Setembro deste ano, a fundação Mandela lamentou os comentários depreciativos de Trump sobre Mandela – citados nas memórias do seu advogado Michael Cohen – em que o presidente americano considerava o icon da luta contra o Apartheid como alguém que desgraçou o seu país.

No campo econômico o assunto é diferente, tendo em conta que os Estados Unidos tem cerca de 600 empresas a operar na África do Sul. Os Estados Unidos são os maiores investidores estrangeiro direto na região do cabo oriental e terão criado nesta localidade cerca de 10 mil empregos nos últimos 15 anos. Esta semana, o cônsul americano em Cape Town anunciou que o comércio bilateral entre os EUA e o Cabo Ocidental é avaliado em quase USD 1 bilhões.

No debate desta terça-feira, no canal moçambicano STV que analisou as preferencias sobre os países africanos quanto aos candidatos às eleições americanas, o jornalista Boaventura Mucipo, perguntava qual o impacto que as futuras reações de Trump poderão causar caso não aceite os resultados. A resposta é que sempre que Donald Trump faz os seus pronunciamentos de instabilidade mexe com os mercados financeiros da África do Sul, e por conseguinte mexe com o rands, a moeda da potencia mais industrializada da nossa região.

José Gama

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