“Decidimos que o seu papel na criação do NLF, o seu fornecimento de fundos e a compra de telefones seguros para a sua utilização, constitui o crime de cometer terrorismo”, afirmou a juíza
Um tribunal ruandês considerou esta segunda-feira Paul Rusesabagina, o antigo gerente hoteleiro que inspirou o filme Hotel Ruandasobre o genocídio de 1994 no país africano, “culpado” de crimes terroristas.
A Câmara do Supremo Tribunal para Crimes Internacionais e Transfronteiriços em Kigali declarou Rusesabagina, 67 anos, culpado de formar e financiar um grupo terrorista por liderar a Frente de Libertação Nacional (FLN), a ala armada do seu partido, o Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD).
O antigo gerente, que deixou de comparecer em tribunal em Março, com o argumento de que não iria receber um julgamento justo, foi preso a 31 de Agosto no aeroporto internacional de Kigali, numa detenção que a sua família e advogados descrevem como um “rapto”.
“Decidimos que o seu papel na criação do NLF, o seu fornecimento de fundos e a compra de telefones seguros para a sua utilização, tudo isto constitui o crime de cometer terrorismo. Considerámo-lo, portanto, culpado do crime de terrorismo”, disse a juíza Beatrice Mukamurenzi, ao ler o veredicto.
Rusesabagina foi considerado culpado “in absentia” numa audiência que ainda não terminou e diz respeito a um caso conjunto em que está a ser julgado juntamente com 20 membros da FLN. Por enquanto, resta saber que sentença o tribunal irá impor ao antigo gerente do hotel.
Os 20 suspeitos incluem dois antigos porta-vozes da FLN, Callixte Nsabimana e Herman Nsengimana, que se encontram detidos por ataques cometidos em 2018.
Paul Rusesabagina foi alvo de nove acusações de terrorismo, incluindo a formação de um grupo armado irregular, pertença a um grupo terrorista e financiamento do terrorismo, bem como homicídio, rapto e assalto à mão armada, como um acto de terrorismo.
Rusesabagina foi gerente do famoso Hotel Thousand Hills, na capital ruandesa, onde alojou mais de mil tutsis e hutus moderados para os salvar dos hutus extremistas, durante o genocídio de 1994.
O antigo gerente tornou-se um adversário altamente crítico do Presidente ruandês, Paul Kagame, e vivia no exílio entre a Bélgica e os Estados Unidos, onde criou uma fundação para promover a reconciliação a fim de evitar mais genocídios.
Estes eventos inspiraram mais tarde o filme “Hotel Ruanda”, protagonizado pelo actor Dom Cheadle, o que lhe trouxe um amplo reconhecimento mundial. Em casa, porém, foi criticado por muitos sobreviventes que o acusaram de explorar o genocídio em proveito pessoal.
O genocídio começou a 7 de Abril de 1994, após o assassinato, no dia anterior, dos presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana (hutu), e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (hutu), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.
Os assassinatos (pelos quais o governo ruandês culpou os rebeldes Tutsi da Frente Patriótica Ruandesa de Kagame) desencadearam o massacre de cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados em cerca de 100 dias, um dos piores assassínios étnicos da história recente.