ONU diz que “9,4 milhões de pessoas sofrem de fome “como resultado direto do conflito em curso”, e que metade das mulheres grávidas e lactantes são subalimentadas.
Mais de nove milhões de pessoas necessitam agora de ajuda alimentar no norte da Etiópia, atingida por uma guerra civil há mais de um ano, anunciou esta sexta-feira o Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas (ONU).
O PAM reiterou esta sexta-feiraa sua preocupação: a situação humanitária deteriorou-se rapidamente nos últimos meses no Tigray, mas também nas regiões de Amhara e Afar, onde o conflito se alastrou.
Os recentes desenvolvimentos do conflito na Etiópia, onde os separatistas do Tigray ameaçam marchar sobre a capital, Adis Abeba, estão a preocupar a comunidade internacional, que está a tentar obter um cessar-fogo.
Vários países, incluindo o Reino Unido, a França e os Estados Unidos, apelaram aos seus cidadãos para que deixassem o país.
O conflito, em curso há mais de um ano, tem sido marcado por atrocidades e fome, tendo já causado milhares de mortes e mais de dois milhões de deslocados, de acordo com a ONU.
De acordo com uma declaração da organização, 9,4 milhões de pessoas sofrem de fome “como resultado direto do conflito em curso”, em comparação com cerca de sete milhões em setembro.
“A região de Amhara registou o maior aumento em número, com 3,7 milhões de pessoas a necessitarem agora de ajuda alimentar urgente”, declarou o PAM.
“De todas as pessoas no norte da Etiópia que necessitam de assistência, mais de 80% (7,8 milhões) estão além da linha da frente”, explicou.
Esta semana, foi distribuída comida em Dessie e Kombolcha pela primeira vez desde que estas cidades de Amhara foram capturadas pelos rebeldes há quase um mês, disse a organização.
A subnutrição também aumentou nas três regiões, afetando entre 16 e 28% das crianças, de acordo com dados do PAM. Em Amhara e Tigray, 50% das mulheres grávidas e lactantes são subalimentadas.
Os combates danificaram mais de 500 estruturas sanitárias em Amhara, declarou, quinta-feira à noite, o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA).
Esta sexta-feira, a Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF) e um funcionário de um hospital relataram dois ataques aéreos em Mekele, a capital de Tigray, com a TPLF a referir-se pela primeira vez a um “drone”.
O diretor de investigação no Hospital de Referência de Ayder, Hayelom Kebede, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que os bombardeamentos tiveram lugar às 09h00 e 12h30 locais, com a primeira a destruir duas casas.
“Ainda estamos à espera dos números das baixas”, afirmou o diretor.
Fontes disseram à AFP que o primeiro ataque ocorreu perto da casa de um comandante rebelde e de uma metralhadora anti-aérea na encosta.
A porta-voz do primeiro-ministro, Billene Seyoum, disse que não tinha “nenhuma informação” sobre qualquer ataque com drones em Mekele.
Foi decretado esta sexta-feira, no país, que é “proibido divulgar, através de qualquer meio de comunicação, qualquer movimento militar consequente [da guerra] no campo de batalha” que não tenha sido oficialmente publicitado pelo Governo.
“As forças de segurança tomarão as medidas necessárias contra aqueles que forem apanhados a violar este decreto”, prossegue o texto, possivelmente visando as contas dos meios de comunicação social que relatam ganhos territoriais reivindicados pelos separatistas da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF).
A natureza destas “medidas” não foi especificada pelo executivo.
O Governo também proibiu a população de “utilizar diferentes tipos de plataformas de meios de comunicação para apoiar direta ou indiretamente o grupo terrorista”.
O novo decreto também proíbe os apelos a “um Governo de transição”.
A guerra em Tigray começou em novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou para a região o exército para retirar as autoridades da TPLF, que desafiaram a sua autoridade e que foram acusados de atacar bases militares.
Abiy declarou a vitória três semanas mais tarde após a captura da capital regional, Mekele.
Todavia, em junho, a TPLF retomou a maior parte de Tigray e continuou a sua ofensiva nas regiões vizinhas de Amhara e Afar, ameaçando agora Adis Abeba.
Os combates já mataram milhares e levaram centenas de milhares de pessoas a condições de carência, nomeadamente de fome, segundo as estimativas das Nações Unidas (ONU).
O enviado especial da União Africana (UA) para o Corno de África, o antigo presidente Olusegun Obasanjo, está a liderar os esforços diplomáticos para conseguir um cessar-fogo, mas poucos progressos foram feitos até agora.
A empresa estatal etíope Fana Broadcasting Corporate informou, quarta-feira, que Abiy está agora “a liderar a contra-ofensiva” e “a dirigir o campo de batalha desde ontem [terça-feira]”, dizendo que, em Adis Abeba, o vice-primeiro-ministro Demeke Mekonnen está agora a gerir “os assuntos do dia-a-dia”.
A TPLF quer que o Governo e as forças aliadas se retirem de Tigray ocidental, enquanto o executivo quer que a força separatista se retire de Amhara e Afar.
Os líderes da TPLF também disseram que pretendem quebrar o que descrevem como um “cerco” humanitário ao Tigray, onde poucos recursos de ajuda humanitária conseguiram ser entregues.
Na quarta-feira, o gabinete de coordenação humanitária das Nações Unidas disse que cerca de 40 camiões que transportavam alimentos, e outras ajudas, tinham partido para Tigray vindos de Semera, a capital de Afar.
“Este é o primeiro comboio desde 18 de outubro”, declarou o gabinete.
Mas “camiões que transportam combustível e material médico continuam à espera, em Semera, da autorização das autoridades”, explicou a ONU.
A ONU também fez o seu primeiro voo humanitário de Adis Abeba para Mekele esta semana, uma vez que tais voos foram suspensos em outubro devido a uma campanha de ataques aéreos governamentais na região.
Estes recentes desenvolvimentos no conflito preocuparam a comunidade internacional e vários países, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido e a França apelaram aos seus cidadãos para deixarem a Etiópia.