O Sudão anunciou que participará este domingo numa nova ronda de negociações com o Egito e a Etiópia sobre a controversa barragem do Nilo Azul, noticiou a agência oficial Suna.
As negociações entre os três países sobre este projeto etíope, lançado em 2011 e destinado a tornar-se a maior instalação hidroelétrica em África, estão bloqueadas há meses.
As últimas conversações, realizadas por videoconferência no início de novembro, terminaram sem progressos.
“O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Omar Qamareddine, e o Ministro da Água, Yasser Abbas, participarão numa reunião ministerial de negociações sobre a Grande Barragem Etíope do Renascimento (GERD, na sigla em inglês)”, adiantou a Suna.
O encontro será mediado pela África do Sul, atualmente à frente da presidência rotativa da União Africana.
O Sudão irá propor que seja atribuído aos peritos da União Africana “um papel mais importante” nas negociações para alcançar um acordo vinculativo sobre o enchimento e o funcionamento da barragem, acrescentou Suna, citando, sob anonimato, um funcionário sudanês.
O projeto da GERD lançado pela Etiópia, está a causar tensões, em particular com o Egito, um país de mais de 100 milhões de habitantes que depende em 97% do Nilo para o seu abastecimento de água.
Cairo e Cartum, que se situam a jusante do rio, querem um acordo juridicamente vinculativo sobre a gestão da barragem e sobre o calendário de enchimento do reservatório, temendo que se for demasiado rápido possam ser privados da água que precisam.
Addis Abeba, por seu lado, considera a barragem essencial para o seu desenvolvimento, fez saber que pretende avançar com o enchimento do reservatório no mais curto espaço de tempo, e está relutante em assinar o acordo, mantendo que o abastecimento de água aos restantes países não será afetado.
O Sudão, que sofreu inundações mortais no verão passado, espera que a barragem ajude a regular o fluxo do rio, mas também avisou que milhões de vidas estariam em “grande risco” se não se chegasse a um entendimento.
As tensões entre os países vêm aumentando desde o início do verão, tendo o Egito endereçado queixas ao Conselho de Segurança da ONU em junho.
Para além do patrocínio da União Africana, as discussões estão também a ser acompanhadas pela União Europeia, o Fundo Monetário Internacional, os Estados Unidos e o Banco Mundial.
O Nilo, que percorre cerca de 6.000 quilómetros, é uma fonte vital de água e eletricidade para 10 países da África Oriental.
A possível retoma das negociações foi já saudada pela União Europeia que considera que, a realizar-se, a reunião “oferece uma importante oportunidade de progresso no sentido de um acordo sobre o enchimento e operações afins da barragem”.
“Como observador das conversações, a União Europeia encoraja todas as partes a mostrar vontade política para se envolverem nesta ronda de conversações num espírito construtivo e aberto”, adiantou, em comunicado, a diplomacia europeia.