Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano, defende a criação de um Mecanismo Africano de Estabilização Financeira capaz de proteger os países do continente das flutuações da economia mundial.
O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento defendeu esta terça-feira a criação de um Mecanismo Africano de Estabilização Financeira(MAEF) para proteger os países do continente de variações na economia mundial e considerou necessária a adoção de políticas comuns.
“Está na altura de criarmos aqui no continente um mecanismo de estabilidade financeira no qual podemos trabalhar juntos para mutualizar os nossos fundos e garantir que evitamos os efeitos de contágio que surgem quando há pandemias globais ou qualquer outro choque”, defendeu Akinwumi Adesina, numa nota enviada à Lusa, na qual admite que serão precisas políticas económicas comuns.
“Temos de começar por garantir que levamos a cabo as reformas de política macroeconómica e orçamentais de que precisamos”, disse o banqueiro, vincando que “África não quer desresponsabilizar-se, mas sim encontrar uma maneira equitativa para lidar com a margem orçamental de que precisamos”.
As declarações de Adesina, em resposta a um conjunto de perguntas colocadas pela Lusa, surgem na sequência da apresentação do relatório sobre as perspetivas económicas africanas, divulgado na sexta-feira e no qual o BAD prevê um crescimento de 3,2% para este ano, depois de uma recessão de 2,1% em 2020 devido aos efeitos da pandemia.
“A dívida coletiva de África está agora nos 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do continente”, escreveu Adesina, apontando que “a parte da dívida externa nas mãos de credores comerciais mais do que duplicou nas últimas duas décadas, passando de 17% em 2000 para 40% no final de 2019”.
Para além da criação do mecanismo agora proposto, Adesina considera que a nova alocação de Direitos Especiais de Saque (DES), no valor de 500 mil milhões de dólares (420 mil milhões de euros), em preparação pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), “vai ajudar muito na estabilização das reservas externas e na taxa de câmbio, permitindo aos países lidar com a dívida e voltarem a envolver-se em investimentos que potenciam o crescimento, o que permitirá que África lide com as causas da doença e não apenas e sempre só com os sintomas”.
No relatório divulgado na semana passada, o BAD estimou que os governos africanos precisam de mais 154 mil milhões de dólares (129 mil milhões de euros) entre 2020 e 2021 para responder aos desafios causados pela pandemia e pelo agravamento da posição orçamental daí decorrente, nomeadamente com o aumento dos custos de servir a dívida.
A dívida pública, de resto, foi o tema central do relatório, com Adesina a assumir que “este tema foi o escolhido pelas implicações que terá na definição das políticas públicas no continente”.